Rita de Cássia Rodrigues e Luciano José Vianna

AS CONTRIBUIÇÕES DOS TRATADOS DE TROTULA DE RUGGIERO PARA A SAÚDE FEMININA DO CONTEXTO MEDIEVAL E SUAS POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES 

  

Abordar a História das Mulheres, especificamente do período da Idade Média, não é uma tarefa simples, levando em consideração que grande parte das produções desse contexto foram elaboradas por homens. Entretanto, é possível encontrar produções escritas pelas mãos femininas e, a partir delas, realizar breves reflexões sobre a atuação feminina nesse contexto histórico. Nessa perspectiva, o intuito deste trabalho consiste em apresentar brevemente as propostas medicinais de Trotula de Ruggiero (1050-1097) presente em seus tratados que eram dedicados majoritariamente para o cuidado com a saúde das mulheres do século XI. A partir disso, observaremos as possibilidades de trabalhá-lo no contexto da formação de professores.

 

O campo histórico que conhecemos atualmente como História das Mulheres surgiu nos anos 60 e 70 do século passado a partir de uma demanda social (feminismo), através da qual surgiram uma série de reflexões sobre o campo histórico feminino em diversas temporalidades (SCOTT, 1992, p. 63-65), o que intensificou a elaboração de produtos culturais (filmes, literatura, etc...) e cujo reflexo observamos, atualmente, em termos de formação cidadã (como, por exemplo, a BNCC, com a temática sobre a História das Mulheres). Assim, ao mesmo tempo que ocorreu o desenvolvimento deste campo de estudo ocorreu também a sua inserção em outros campos historiográficos (AURELL, 2013, p. 287-340). 

 

Os discursos históricos, durante muito tempo, estiveram direcionados para as elites sociais, tratando-se de uma história tradicionalista e dos grandes homens. No contexto do século XIX, a história positivista enfatizava somente as questões políticas. Diante disso, foi a partir da Escola dos Annales, notadamente na terceira geração, que iniciou o desenvolvimento de novos campos historiográficos, dentre eles o estudo sobre a História das Mulheres. A inclusão dessa temática, no entanto, foi reforçada graças aos movimentos feministas que ocorreram a partir de 1960 (SOIHET, 1997).

 

De acordo com Joan Scott, “a importância das mulheres na história significa necessariamente ir contra as definições de história e seus agentes já estabelecidos como ‘verdadeiros’” (SCOTT, 1992). Nesse sentido, o estudo sobre as mulheres possibilita o rompimento de uma história universal e a desconstrução de concepções errôneas, tendo em vista que os discursos femininos estavam silenciados na historiografia. Porém, é extremamente necessário analisar as fontes com cautela, pois muitas informações sobre as mulheres foram elaboradas a partir de uma perspectiva masculina.

 

Segundo Soihet (1997), o que é apresentado nas fontes refere-se majoritariamente à maneira pela qual as mulheres deveriam ser e o que fazer de acordo com o viés masculino. Consequentemente, isso resulta na escassez de informações sobre o passado feminino, dificultando assim as pesquisas dos (as) historiadores (as) na atualidade. Essa questão persiste principalmente no período medieval, visto que as obras deste contexto eram produzidas majoritariamente por homens.

 

Não obstante, é possível encontrar obras de autoria feminina e com elas obter uma nova análise da história. “As mulheres da Idade Média, a quem senhores, esposos e censores negam a palavra com tanta persistência, deixaram afinal, mais textos e ecos do seu dizer do que traços propriamente materiais.” (KLAPISCH- ZUBER, 1993). Dessa forma, é de grande importância o estudo das fontes produzidas por mulheres, o que favorece a análise sobre o cotidiano e a atuação feminina na sociedade, como é o caso da obra Sobre as doenças das mulheres (século XI) de Trotula de Ruggiero, o que possibilita o conhecimento acerca da História das Mulheres na Idade Média vinculado à História da Medicina.

 

Trotula de Ruggiero: a mais importante das Damas de Salerno

 

A obra Sobre as doenças das mulheres foi composta em pleno século XI no sul da Itália, uma região de intensa circulação e trocas culturais, principalmente com o mundo islâmico. Sua autora, Trotula de Ruggiero, foi silenciada da história durante séculos, tanto que a obra em questão foi recentemente traduzida ao português e agora está disponível para o público brasileiro. Sobre as doenças das mulheres gira em torno da questão da saúde feminina e, portanto, apresenta dois temas muito pouco trabalhados em termos de estudos medievais no Brasil, a história das mulheres e a história da medicina medieval. A obra caracteriza-se pela sua minuciosidade em relação aos cuidados com a saúde, e também porque está voltada para o contexto infantil em algumas situações, como, por exemplo, com os recém-nascidos. Desta forma, a obra está voltada completamente para uma preocupação com a saúde feminina e, de forma específica, no contexto do século XI, apresentando, portanto, uma forma de pensamento, de tratamento, de complexidade e de trabalho com o corpo e a saúde feminina, inclusive considerando a situação social das mulheres, fossem ricas ou fossem pobres, sempre com a intenção de propor um comportamento equilibrado entre os aspectos higiênicos, alimentares e de beleza para o universo feminino, destacando, portanto, práticas e representações sobre a saúde feminina. 

 

No espaço temporal entre os séculos XI e XII, a cidade de Salerno, sul da Itália, vivenciava um período de crescimento urbano e desenvolvimento econômico e comercial. Era uma região que favorecia uma vasta relação e encontro entre várias culturas, o que foi um dos aspectos que direcionou para o surgimento da área medicinal, fruto do compartilhamento de diversas experiências e tradições. Dentre elas, destaca-se a importante contribuição resultante do convívio entre cristãos, mulçumanos e judeus. (PINHO, 2016).

 

Desse modo, houve o desenvolvimento da Escola Médica Salernitana, tornando-se ponto referencial para as pessoas de diferentes lugares que buscavam tanto a cura para as enfermidades, quanto a formação no campo da medicina. A localização regional de Salerno possibilitou que “seus membros fossem pessoas capacitadas a fazer uso de um rico e variado conjunto de textos médicos que circulavam pelo sul italiano.” (BROCHADO; PINHO, 2018). As traduções dos textos médicos de outras culturas fizeram com que a medicina do século XI se tornasse cada vez mais enriquecida e inovadora, atraindo assim pessoas de todos os lugares.

 

Vale ressaltar que uma das principais e notáveis características da escola salernitana tratava-se de não ser controlada pela igreja e permitir o acesso de mulheres. Dentre elas, a médica e mestra Trotula de Ruggiero (1050-1097) foi considerada a mais importante e merecedora de grande destaque, pois, além de ter se dedicado inteiramente para o cuidado com o corpo feminino, escreveu todo seu conhecimento e experiências que vivenciou no âmbito medicinal em tratados que foram disponibilizados para outras gerações.

 

Assim sendo, “Trotula tornou-se ímpar por ter aliado a pesquisa e o ensino da medicina à profissão de médica, ou seja, escreveu o seu próprio ensino.” (SIMONI, 2010). As suas obras mais conhecidas são o De possionibus mulierum ante, en e post partum (Sobre as doenças das mulheres antes, durantes e depois do parto), denominado Trotula maior, e De ornatu mulierum (Sobre a beleza das mulheres), o Trotula menor. Os assuntos trabalhados em sua obra são voltados para a saúde feminina, como, por exemplo, a falta ou excesso de menstruações, a infertilidade feminina, o excesso de suor, a disenteria, dor de dente, mau-hálito, feridas na pele, doenças dos olhos e da garganta, sugestões para evitar e para alcançar a gravidez, os cuidados durante o período da gravidez, formas de tornar o parto menos dolorido, cuidados com o recém-nascido e os cuidados com a mulher depois do parto.

 

Os cuidados com a saúde da mulher

 

Utilizando a perspectiva teórico conceitual apresentada por Patrick Geary (2002) relacionada à memória social, no qual esta pode ser estudada “considerando-a como o processo que permite à sociedade renovar e reformar sua compreensão do passado a fim de integrá-lo em sua identidade presente”, torna-se possível a análise da obra Sobre as doenças das mulheres (séc. XI) evidenciando o fato de que Trotula, ao preocupar-se em seu presente com a saúde feminina, volta-se para o passado e recupera a memória das tradições medicinais direcionadas majoritariamente para as doenças das mulheres. Nesse sentido, é notório a sua preocupação e cuidado com o grupo social feminino em seu contexto histórico. Portanto, logo no início do tratado, a médica revela o motivo que a fez direcionar todo seu conhecimento medicinal para áreas hoje consideradas como ginecologia e obstetrícia. Verificamos o fragmento a seguir:

 

“Porque as mulheres são por natureza mais frágeis que os homens, nelas as doenças abundam com mais frequência, sobretudo em torno dos órgãos reservados à função natural. Como esses estão posicionados em um lugar mais íntimo, por pudor e pela fragilidade da sua condição, elas não ousam revelar ao médico as aflições das suas enfermidades. Por tal motivo, eu, tendo compaixão pela sua desventura e particularmente impulsionada pela solicitação de uma certa senhora, comecei a ocupar-me diligentemente das doenças que muito frequentemente molestam o sexo feminino.” (RUGGIERO, 2018).

 

A partir desse trecho é possível identificar como as mulheres eram representadas no contexto em que a médica estava inserida. A afirmação de que as mulheres são mais frágeis do que homens e o fato de discorrer muito sobre assuntos ligados a maternidade e cuidados infantis, deve ser analisado observando os aspectos do período medieval, na qual as atividades femininas estavam direcionadas ao matrimônio e procriação. Assim, pode-se compreender essa afirmação sem correr o risco de cometer anacronismos.

 

Não obstante, Trotula mostrava-se muito além da sua época, pois tratava o corpo feminino sem nenhum tabu ou preconceito, chegando ao ponto de instruir receitas de como contrair a vulva para que, mesmo se violada, a mulher parecesse virgem. (RUGGIERO, 2018). Ademais, abordava assuntos voltados para a sexualidade e ressaltava a importância da menstruação, apontando que a maioria das enfermidades eram decorrentes do desequilibro desse ciclo. Além disso, contrariando os pensamentos vigentes no medievo, revelou que se tratava de um equívoco atribuir a questão da infertilidade apenas às mulheres. O fragmento seguinte apresenta essa ideia:

 

“Algumas mulheres têm o útero tão macio e viscoso que [o útero, e não as mulheres] não retém o esperma recebido. Às vezes isso acontece por culpa do homem, quando ele tem um sêmen muito inconsistente que, derramado no útero, desliza para fora por conta da sua liquidez. Alguns homens têm os testículos muito frios e secos, esses raramente ou nunca procriam porque o seu sêmen não é propício para a reprodução.” (RUGGIERO, 2018).

 

Nessa passagem, Trotula afirma que o defeito também pode estar no sexo masculino. Dessa forma, nota-se que, apesar de ter vivido em um contexto no qual a presença de pensamentos misóginos era muito forte, ela destaca em seus tratados um diálogo de zelo e defesa diante das mulheres. Vale ressaltar que ao preocupar-se com o bem-estar do grupo social feminino, receitava dietas restritas, modos de higiene para prevenir as enfermidades e tratamentos com plantas naturais para o processo de cura, todos ensinamentos baseados nos conceitos medicinais de Hipócrates (séc. III a. C) e Galeno (séc. II). Além disso, prescreve receitas de banhos, cremes, massagens, entre outras formas de embelezamento feminino, visto que para o corpo permanecer saudável deveria existir harmonia entre os aspectos internos e externos.

 

Nesse sentido, pode-se considerar que Trotula de Ruggiero ocupou uma posição de “ponte-síntese entre a tradição galênica e hipocrática e a medicina que ganhava força no seu tempo, combinação de práticas orientais e ocidentais cada vez menos voltada para as práticas mágicas e ou a intervenção divina e mais direcionada à busca do equilíbrio entre a higiene, a boa alimentação e a beleza para atender o universo feminino” (CALADO; SIMONI; DEPLAGNE, 2018), enriquecendo, assim, os cuidado medicinais voltados para área consideradas como a ginecologia e a obstetrícia. 

 

A importância dos tratados de Trotula na formação de professores

 

Como se pode observar, os tratados de Trotula de Ruggiero consistem em escritos repletos de informações sobre o contexto social feminino do medievo. Vale ressaltar também sobre o contexto infantil, uma vez que a salernitana apresenta inúmeras contribuições voltadas para o cuidado com as crianças, desde o período gestacional. Descrevendo sobre áreas como ginecologia e obstetrícia, embelezamento da pele, cuidado com o corpo, dentre vários assuntos, e partindo sempre de suas experiências na prática medicinal, torna-se possível observar o amplo conhecimento que tinha sobre essa área.

 

Recentemente traduzida para o português, a obra Sobre as doenças das mulheres pode ser abordada na formação de professores, principalmente nos fragmentos destacados para com os cuidados com o contexto feminino. Em primeiro lugar, tendo em vista que na Idade Média, por se tratar de um período com feitio patriarcal, há uma vasta documentação de caráter misógino, há a tendência, tradicionalmente falando, principalmente entre o grande público, de considerá-la como um período exclusivamente masculino. Neste sentido, obras como a de Trotula ajudariam a desmistificar e desconstruir esta ideia na formação de professores. Isto posto, apresentar e estudar obras elaboradas pelo grupo social feminino contribui para a desconstrução de estereótipos e amplia o olhar dos futuros professores para muitos acontecimentos que foram silenciados na historiografia.

 

Estudar a História das Mulheres na Idade Média é fundamental para a percepção de que elas realizaram um papel ativo na sociedade, e isso é fundamental em um contexto de formação de professores. Nesse sentido, é importante ressaltar que não necessariamente a mulher estava na posição de submissão perante ao homem, pois o medievo estava composto por diversos grupos sociais. Para exemplificar, basta observar que as mulheres da nobreza tinham mais autoridade do que um homem camponês (NASCIMENTO, 1997, p. 90). Nota-se, portanto, que muitas mulheres participaram ativamente na sociedade, desempenhando as funções de professoras, médicas, rainhas, entre outras, e cabe a nós, professores, analisar em sala de aula as fontes que tais personagens produziram, enriquecendo assim a formação inicial.

 

Considerações finais

 

Uma das áreas do conhecimento que mais foi alterada com a reformulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi a relacionada ao período medieval e, consequentemente, o ensino de História. Sobre esta reformulação, destacamos um tema presente na BNCC e que está voltado para o Ensino de História Medieval: a história das mulheres (BNCC, 2018, p. 420-421).

 

É notório que a inclusão dos estudos sobre as mulheres, proporcionado pela terceira geração dos Annales e, ainda mais reforçado pelos movimentos feministas de 1970, foi ampliando as possibilidades de análises históricas a partir de novas fontes. Nessa perspectiva, tornou-se possível a realização de pesquisas sobre a História das Mulheres na Idade Média de acordo com os escritos produzidos pelo grupo feminino, como foi o caso da obra Sobre as doenças das mulheres de Trotula de Ruggiero (século XI). Dessa forma, esse estudo é extremamente necessário para apresentar uma nova visão do período medieval, desconstruindo os estereótipos de “idade das trevas” e período extremamente misógino. Ademais, é importante salientar que obras como essa podem ser abordadas em um contexto de formação de professores, uma vez que a mesma proporciona um olhar feminino em relação a determinado aspecto histórico.

 

Posto isso, é possível identificar que no contexto da Idade Média existiram mulheres escritoras, cientistas, professoras e médicas, ou seja, a participação feminina ativa na sociedade. Dessa forma, os escritos de Trotula foram importantes para o estudo das mulheres como seres sociais, levando em consideração o seu papel fundamental na história, no qual foi necessário e de grande contribuição para a educação medicinal do medievo.

 

Referências biográficas 

 

Luciano José Vianna é Professor Adjunto de História Medieval da Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a la Mediterrània pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Pós-Doutor em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Membro do Institut d’Estudis Medievals (UAB-IEM), da ANPEd e da ANPUH (PE). Coordenador do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina). 

 

Rita de Cássia Rodrigues é graduanda do Curso de História da Universidade de Pernambuco/campus Petrolina e integrante do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina). Atualmente realiza seu projeto de Iniciação Científica como bolsista da Fundação e Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) sob a orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna, cujo título é “A infância, a mulher e a medicina medieval na obra Sobre as doenças das mulheres (séc. XI) de Trotula di Ruggiero (séc. XI).”

 

Referências bibliográficas

 

Fonte

 

RUGGIERO, Trotula di. Sobre as doenças das mulheres. DEPLAGNE, L. C. SIMONI, K. (org.). Trad. Alder Ferreira Calado e Karine Simoni. 1ª Ed. Copiart, Florianópolis, UFSC/ DLLE/ PGET, 2018.

 

Bibliografia

 

AURELL, Jaume y BURKE, Peter. Las tendencias recientes: del giro linguístico a las historias alternativas. In: Comprender el pasado. Una historia de la escritura y el pensamiento histórico (Aurell, Jaume; Balmaceda, Catalina; Burke, Peter; Soza, Felipe). Madrid: Ediciones Akal, 2013, p. 287-340. 

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a Base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 05 abr. 2020.

 

BROCHADO, Claudia Costa e PINHO, Lúcia Regina Oliveira e. Trótula e a medicina das mulheres. In: Vozes de mulheres da Idade Média. Cláudia Costa Brochado; Luciana Calado Deplagne (Organizadoras). João Pessoa: Editora UFPB, 2018.

 

GEARY, Patrick. Memória. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude (eds.). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Vol. II. São Paulo: EDUSC, 2002, p. 167-181.

 

KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Introdução. In: História das Mulheres. A Idade Média. Organizadores: Georges Duby e Michelle Perrot. Porto: Edições Afrontamento, 1992, p. 9-23. 

 

NASCIMENTO, Maria Filomena Dias. Ser Mulher na Idade Média. Textos de História, Brasília, v. 5, p. 82-91, 1997.

 

PINHO, Lúcia Regina de Oliveira e. Trotula de Salerno: périplo na história e historiografia. Monografias UnB. [Online] 2016. Disponível em: http://bdm.unb.br/handle/10483/15710. Acesso em: 03 de maio de 2021.

 

SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: Peter Burke. (Org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas. Trad.: Magda Lopes. São Paulo: Unesp, 1992, p. 63-95.

 

SOIHET, Raquel. História das mulheres. In: Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Orgs. Ciro F. Cardoso, Ronaldo Vainfas, 5ª ed. Rio de Janeiro: CAMPUS LTDA, 1997.

3 comentários:

  1. Ilustres autores,

    parabéns pelo texto.

    Gostaria de saber sobre algumas coisas que me levantaram dúvidas. A primeira é sobre o contexto moral e social que a Trotula estava inserida. Vocês perceberam algum tipo de silenciamento, subtração da autora em relação aos homens ou à própria Igreja, no que se refere ao conteúdo dos Tratados? Outra questão é sobre a circulação das obras, em especial aquela tratada neste texto. É possível observar alguma influência do contexto islâmico/árabe no conteúdo do Tratado? Haja vista a localização da Trotula e a relação daquele lugar com diversos povos e culturas...

    José Carlos da Silva Ferreira

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    1. Olá, boa tarde. Obrigada pela pergunta, José Carlos!

      No contexto em que Trotula de Ruggiero atuou como médica, a Escola Médica de Salerno não estava vinculada ao poder da igreja e permitia que as mulheres participassem como alunas, médicas e professoras. Dessa forma, Trotula e seus tratados foram aceitos e reconhecidos no medievo, ao ponto de serem citados em obras elaboradas por homens, como por exemplo, sendo mencionada pelo trovador Rutebeuf. Além disso, os tratados foram traduzidos para diversos idiomas e utilizados como referência nas escolas de medicina. No entanto, a notoriedade que obteve no medievo foi apagada a partir do século XVI. Nesse contexto, a autoria feminina dos tratados passou a ser questionada, duvidando da capacidade de uma mulher em produzir uma obra tão cientifica, com isso, resultou no silenciamento da médica salernitana, atribuindo a autoria de seus tratados para figuras masculinas. Ou seja, Trotula foi aceita e reconhecida na Idade Média, mas apagada e questionada pelos períodos posteriores.
      Em relação a segunda pergunta... Sim, como a cidade de Salerno estava localizada em uma região no qual favorecia o encontro entre várias culturas, a escola possuía muitos escritos baseados na medicina árabe e bizantina. No caso de Trotula, a salernitana realizava uma prática medicinal preventiva e terapêutica, no qual a higiene era fundamental para evitar enfermidades. Assim, receitava banhos, massagens, cremes e formas de embelezamento que, em alguns casos, tinha influência da cultura árabe.

      Rita de Cássia Rodrigues

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    2. Olá José, obrigado pela pergunta!

      Vou me concentrar na segunda pergunta. Sim, havia uma influência muito clara do contexto árabe naquela região. Vamos recordar que se trata de um território próximo ao Mediterrâneo, logo, as trocas culturais com o mundo árabe estavam ocorrendo constantemente. Sem falar da influência da literatura medicinal antiga na produção de Trótula, como Galeno e Hipócrates, por exemplo.

      Luciano José Vianna

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