“QUE SE CALEM!” (OS HOMENS): A DESCONSTRUÇÃO DO DISCURSO MISÓGINO POR CHRISTINE DE PIZAN (1364-1430) NA OBRA A CIDADE DAS DAMAS (1405)
Historiografia e História das Mulheres
A História das Mulheres proporcionou uma nova forma de análise histórica. O século XX marcou um novo momento dentro do campo da historiografia, uma vez que adicionou a esse campo as silenciadas e excluídas da História, as Mulheres. A História que antes era apenas do homem branco e ocidental passou a ter novas integrantes, integrantes que gradativamente foram sendo reconhecidas e cujas vozes foram escutadas mesmo sobre o barulho dos homens.
Ao longo do século XX a História das Mulheres tornou-se um campo definível, no entanto, o percurso que as mulheres traçaram não foi nada tranquilo, uma vez que estavam adentrando em um campo dito masculino. Cobrar por serem objetos e sujeitos da história em uma sociedade formado com base no patriarcado, desconstrói a noção de uma história única e verdadeira, e mais que isso, evidencia que a história está incompleta e necessita de uma suplementação, dado que o projeto da história das mulheres não foi algo simples, como adicionar algo que faltava. Segundo Joan Scott, esse projeto “(...) é ao mesmo tempo um suplemento inócuo à história estabelecida e um deslocamento radical dessa história” (SCOTT, 1992, p. 75), além de que o termo suplemento “(...) sugere, não apenas que a história como está é incompleta, mas também que o domínio que os historiadores têm do passado é necessariamente parcial” (SCOTT, 1992, p. 79). Assim, os/as historiadores/as das mulheres têm um trabalho pela frente, uma vez que a mulher sempre esteve em interação com a sociedade, todavia, foi privada de ser compreendida, ouvida e lida, o que ocasionou uma lacuna na história.
Portanto, ao estudar o campo da História das Mulheres, e principalmente da Mulher Medieval, é de grande importância abranger o conceito de gênero, tendo em vista que não é algo neutro, pelo contrário, a sociedade modifica a sua maneira o que é ser homem e ser mulher, carrega em si construções culturais e hierárquicas, o que acabou desfavorecendo o feminino. Segundo Klapisch-Zuber, “aquilo que se convencionou chamar gênero é o produto da reelaboração cultural que a sociedade opera sobre essa pretensa natureza: ela define, considera – ou desconsidera –, representa-se, controla os sexos biologicamente qualificados e atribui-lhes papéis determinados” (KLAPISCH-ZUBER, 1992, p. 11). Desse modo, os homens que detinham maior autoridade trataram de traçar e subjugar o segundo sexo, não partindo das suas predisposições biológicas, mas sim, a partir da ideologia. Destaca-se no final do Medievo Aristóteles e sua influência no pensamento político e social, que resultou na dicotomia do feminino e masculino baseado nos espaços público e privado, visto que a mulher se encontra no espaço doméstico, enquanto que o homem se encontra com a autoridade e autonomia política (KLAPISCH-ZUBER, 1992, p. 12).
Assim, perante a exclusão e silenciamento da mulher medieval, durante esse período foram propagadas calúnias e difamações sobre o feminino, o que resultou na cultura misógina. Segundo Fonseca, “a prática do discurso antifeminista medieval, muitas vezes representada pelo simples costume ou gosto da denúncia pela própria denúncia” (FONSECA, 2012, p. 179). Dado que, os homens da igreja são os principais a disseminar a aversão sobre a mulher, sendo que “para eles estavam claríssimos que a mulher era um perigo carnal e espiritual a ser evitado” (NASCIMENTO, 1997, p. 86). Eles propagaram a negatividade da menstruação, crendices que inferiorizavam a mulher, e que eram utilizados para justificar a proibição das mulheres em determinados espaços, como, por exemplo, participar da missa, tocar nos ornamentos ou ter qualquer função sacerdotal. Em vista disso, a igreja se preocupou em determinar e julgar a mulher, e como detentora do saber e da escrita trataram de escrever o que achavam e interpretavam sobre esse sexo, tornando uma problemática para sua temporalidade e para a posteridade, uma vez que “(...) a maior parte desta produção literária foi escrita por homens celibatários, o que sem dúvida terminou por refletir suas convicções, desejos e fobias com relação à mulher” (NASCIMENTO, 1997, p. 86).
Memória e Representação na escrita cristiniana
A obra A Cidade das Damas é marcada ao longo dos seus três livros pelo resgate de mulheres valorosas e virtuosas, no entanto, só é possível esse resgate a partir da memória, e é a partir dessa memória que Christine de Pizan constrói a representação do feminino, desvinculando a antiga representação forjada pelos grupos masculinos medievais, na qual tinha a mulher como um ser subalterno e submisso.
A partir da memória, o historiador Patrick Geary ressalta, “assim, pode-se estudar a memória do social considerando-a como o processo que permite à sociedade renovar e reformar sua compreensão do passado a fim de integrá-lo em sua identidade presente” (GEARY, 2002, p. 167), dado que, Pizan ao contrariar aquela sociedade, vai buscar nas brechas da memória o caminho que a levará para os arquivos predestinados para o esquecimento, e irá reformular e adaptar a sua realidade.
Assim, constrói uma representação feminino desvinculado da cultura misógina. Segundo Roger Chartier, “as representações do mundo social assim construídas, (...) são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam” (CHARTIER, 2002, p. 17). Isto é, Pizan cria por meio do seu dom da escrita uma sociedade utópica que servirá para desconstruir o pensamento misógino que está engendrado na sociedade medieval, e constrói uma representação feminina desvinculada do discurso de subalternização e submissão, a partir do resgate de diversas mulheres virtuosas do passado e do presente, históricas e mitológicas, reajusta-las segundo o seu entendimento, enfrentando os homens que repudiavam as mulheres, elevando suas virtudes e suas contribuições para com a sociedade.
Christine de Pizan (1364-1430) e A Cidade das Damas (1430)
Christine de Pizan era natural da Itália, no entanto, aos 4 anos mudou-se para o Reino da França, onde cresceu em um ambiente intelectualizado. Frequentou a biblioteca de Carlos V, o que facilitou seu acesso ao campo do saber, e ao debruçar sobre os livros começou a questionar o seu lugar social, tornando-se uma leitora ativa, criticando os livros que contradiziam os fatos (SOUZA, 2013, p. 36). Seu pai, um grande astrólogo e astrônomo da corte real, influenciou a permanecer nos estudos, indo contra a concepção masculina que temia o acesso feminino as Letras. Contudo, foi aos 25 anos de idade que iniciou as suas produções, levada pela dor da perda, desabafava por meio das suas baladas o luto pelo seu marido, a qual conviveu por aproximadamente dez anos e teve três filhos. (SOUZA, 2013, p. 20-23).
Na escrita cristiniana, segundo Calado, ela deixou registrado o seu “eu”, como modo de dar voz às mulheres, visto que elas por muito tempo foram silenciadas e deixadas no esquecimento, dado que, “a busca por esse espaço significante na História constitui a essência da escrita feminina como meio de libertação através da autonomia de expressão” (CALADO, 2006, p. 17). Isto é, a escrita feminina no medievo foi o meio de desacorrentar as mulheres daquela sociedade impregnada de calúnia e difamação, dando voz e vez para que elas pudessem desconstruir essa cultura misógina, e ocupar o seu lugar de fala, que antes era de domínio masculino. Mediante a isto, apresenta na sua obra mulheres virtuosas, com o objetivo de resgatar a honra que foi deturbada pelas narrações caluniosas dos homens, ao mencionar diversas mulheres míticas e religiosas, do passado e da sua contemporaneidade, para fundamentar e valorar sua narração (NERI, 2013, p. 75-76).
A obra A cidade das Damas foi dividida em três livros, em cada livro é marcado com o diálogo de Christine com as três damas – Razão, Retidão e Justiça. Tendo vista que Pizan inicia sua obra esclarecendo o que a fez a escrever uma obra contra a cultura misógina, evidenciando o livro Mateolo, que atribuía as mulheres as maiores mentiras, e levada pela inquietação e insatisfação, não apenas diante desse livro, mas de tantos outros que já lera, ela busca no campo das Letras os caminhos para contrariar e desmentir os discursos difamatórios (NERI, 2013, p. 76-77).
Já no primeiro livro, Christine inicia o diálogo com dama Razão, e a partir das suas indagações levantará as paredes e os altos muros, e incita a pegar as mesmas obras ditas caluniosas, e revertê-las ao seu favor, enquanto que dama Retidão no segundo livro constrói as edificações das cidades, acolhendo ao logo das narrações mulheres da família real francesa que são dignas de morar nesta almejada cidade, e por fim, dama Justiça constrói as altas e fortificadas torres, além de convidar a rainha dos céus, Nossa Senhora, a habitar e governar aquela cidade. E, ao encerrar a missão, Christine volta-se a todas as damas, e esclarece que aquele lugar é apenas para as mulheres virtuosas, e que todas continuem nos caminhos bons.
A construção do discurso misógino
Para desconstruir a cultura misógina, se faz necessário compreender como essa cultura foi construída. Desse modo, Pizan evidencia que muitas foram as calúnias levantadas contra as mulheres para que elas fossem inferiorizadas, e consequentemente menosprezadas diante da sociedade, e com isto, inicia a exposição desse discurso afirmando que foram acusadas de se arrumarem com o intuito de atrair os homens, além de terem caráter fraco, comparando-as com uma criança, e que apenas servia para falar, chorar e tear. Afirmavam que se Jesus primeiramente apareceu diante de uma mulher é porque sabia que ela não ficaria quieta, e com isto, os homens trataram de negativar a anunciação de Cristo por uma mulher (PIZAN, 2012, p. 84-88). É notório que tudo que tratava sobre a mulher era construído um discurso para negativar a ação, tendo por objetivo a repulsa da sociedade sobre esse sexo que era vítima do patriarcado.
Além disso, Pizan não entendia o porquê de tantos homens renomados e ilustres se ocuparam em difamar e propagar mentiras sobre as mulheres, citando em seu livro escritores renomados da época, como Ovídio e Cecco d’Ascoli, ambos se dedicaram em suas obras a falar com tamanho desgosto sobre o feminino. Diante de tantos escritos, a autora questiona se todos seriam verdadeiros, tendo a possibilidade de estarem sendo equivocados, dado que, diante da mulher medieval aquelas obras não passavam de uma imensa injustiça perante o seu sexo, pois não representavam a realidade (PIZAN, 2012, p. 79-83). Posto isto, é perceptível o quanto Pizan era consciente da sua posição enquanto mulher, e como era contraditório todo aquele discurso.
Christine de Pizan ao expor os discursos misóginos tinha como propósito compreender o motivo de tantas calúnias do sexo oposto ao feminino, e se seria possível de tantos autores estarem errados diante das suas afirmações sobre a mulher. E, por mais que soubesse que tudo o que declaravam não passava de grandes mentiras, entretanto passa a questionar pela recorrente negativação presente em tantas obras que teve contato, uma vez que “(...) o testemunho de vários garante a credibilidade” (PIZAN, 2012, p. 60), e a partir dessa inconformidade que ela traçará novos rumos para as mulheres virtuosas, porque diferentemente do que os homens afirmavam que elas eram más e inclinadas ao vício, Pizan com a ajuda das damas – Razão, Retidão e Justiça –, reverte essas acusações e busca na histórias as cheias de virtudes e de tamanha contribuição para com a sociedade.
A desconstrução do discurso misógino
Assim, a Dama Razão, a partir dos questionamentos de Christine, inicia a desconstrução da misoginia esclarecendo que muitos homens se empenharam em difamar as mulheres pelos seus próprios vícios, ou seja, eles condenavam as mulheres por defeitos que eles tinham. Enquanto outros as difamavam por inveja, enfermidade do seu próprio corpo e até pelo simples gosto de maldizer. Dado que diferentemente do que afirmavam que as mulheres eram depravadas, com o objetivo de tornarem abomináveis, a dama Razão ressalta que a natureza da mulher é simples, honesta e comportada, indo contra os discursos proferidos pelos homens (PIZAN, 2012, p. 74-75). E, para validar essa afirmação, esta dama fala sobre os discursos de Ovídio contra as mulheres, uma vez que se fundamenta na sua própria vida, que foi depravada, que resultou no seu exílio, e terminou sendo castrado, como consequência da sua vida desmedida, de prazeres e vaidades. E, se fala sobre a obra de Cecco d’Ascolli, ele desprezava e abominava todas as mulheres, evidenciando isso em suas obras, e sobre o livro “Do segredo das mulheres”, obra recomendado para não ler diante das mulheres, pois era baseado em inverdades e calúnias sobre elas. (PIZAN, 2012, p. 79-80).
Quanto a imperfeição e fraqueza da mulher, a dama Razão logo explica que desde o princípio Deus já arquitetara o homem e a mulher, e se a mulher formou-se da costela de Adão, isso justifica que a mulher não é inferior e nem superior ao homem, mas sim, igual, devem andar lado a lado, e questiona como Deus iria fazer alguém de natureza tão ruim, visto que é a imagem e semelhança Dele, entretanto, essa imagem confere a alma, e essa alma é boa e nobre, tanto a do homem como a da mulher. Diferentemente do que afirmava Cícero de que o homem não deveria se rebaixar ao se colocar à disposição da mulher, todavia, a superioridade e inferioridade dos corpos condiz a sua virtude e seus costumes, não sendo definida pelo sexo, e sim, pelo mérito. E, ao falar sobre Catão, sobre uma sociedade sem mulheres e a comunicação com Deus, a Dama afirma, maior foi a elevação do homem pela mulher, a Nossa Senhora, se outrora o ser humano fora banido por uma mulher, elevação maior teve quando Maria concebeu Jesus (PIZAN, 2012, p. 80-83).
Além disso, Pizan afirma que os homens cobram das mulheres uma constância e bondade que eles não têm, tendo em vista que ao cometerem erros, justificam-se com o pecar é humano, mas para as mulheres é inaceitável, julgando-as como fracas e inconstantes, autoconferindo-se uma autoridade moral, nunca reconhecendo a constância e a força da mulher, apenas atribuindo-lhes os piores crimes (PIZAN, 2012, p. 239). E, se Pizan questiona o motivo de tantas mulheres virtuosas terem permanecido em silêncio diante de tamanhas calúnias, a Dama esclarece que essas mulheres depositaram suas contribuições para a ciência e para as artes, portanto a missão de debater e combater os discursos misóginos era de Christine (PIZAN, 2012, p. 261-262).
Destaca-se que após os questionamentos de Christine de Pizan para as Damas, e após escutar atentamente a cada resposta e compreender os grandes benefícios que graças as mulheres foram realizadas, ela ordena que, “Ah, Dama, ao escutar-vos, dou-me conta, mais do que nunca, como é grande a ignorância e ingratidão de todos esses homens que maldizem tanto as mulheres! (...) Que se calem!” (PIZAN, 2012, p. 145).
Considerações Finais
Em suma, estudar a Idade Média tendo como campo de pesquisa a História das Mulheres é inovador e curioso. Recorte histórico por tanto tempo reduzido apenas a imagem das três ordens – Clero, Nobreza e Campesinato -, hoje nos mostra diversos campos possíveis de pesquisa, entre eles, o da mulher. Estudar a mulher em um contexto em que o patriarcado tem seu monopólio é resgatar por meio de registros escritos a representação de um indivíduo posto pelos detentores do saber medieval como inferior e subalterno.
Christine de Pizan, na Baixa Idade Média, desconstruiu toda uma contextualização sobre a mulher, enquanto ser passivo e quieto, conformado com o destino que os homens impuseram. Ela reivindicou seu lugar, o lugar da mulher, dentro do meio educacional, pois tinha a consciência que muitos discursos que eram levantados contra as mulheres não correspondiam à realidade. Por fim, A Cidade das Damas evidenciou o desejo de Pizan que vivendo à mercê dos julgamentos masculinos, apenas queria um lugar de paz, não apenas para ela, mas para todas as virtuosas mulheres. Queria um lugar justo, onde suas vozes não fossem caladas, onde suas memórias não fossem deixadas no esquecimento, onde ser mulher seria algo positivo, e não um castigo.
Referências
Maristela Rodrigues Lima, graduanda do Curso de História da Universidade de Pernambuco/campus Petrolina e integrante do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina). Atualmente realiza seu projeto de Iniciação Científica como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sob a orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna, que tem por título “A desconstrução do discurso misógino nos espaços literário, intelectual e político na obra A cidade das damas – 1405 – de Christine de Pizan – 1364-1430”.
Fonte
PIZAN, Christine. A cidade das damas. Trad. Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne. Florianópolis: Editora Mulheres, 2012.
Referências bibliográficas
CALADO, Luciana E. de Freitas. A cidade das damas: a construção da memória feminina no imaginário utópico de Christine de Pizan. [Tese de doutorado] Recife, 2006.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre práticas e representações. trad. Maria Manoela Galhardo. 2° ed. DIFEL, 2002.
FONSECA, Pedro Carlos Louzada. Fontes literárias da difamação e da defesa da mulher na Idade Média: Referências obrigatórias. Goiás, 01 fev. 2012. Disponível em: http://gtestudosmedievais.com.br/index.php/publicações/fontes.html. Acesso em: 22 de agosto de 2020.
GEARY, Patrick. Memória. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean Claude (Org.). Dicionário temático do Ocidente Medieval. Vol. II. São Paulo: EDUSC, 2002. p. 167-181.
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Introdução. In: DUBY, Georges e PERROT, Michelle. História das mulheres. A Idade Média. Vol. 2. Porto: Afrontamento, 1992, p. 9-23.
NASCIMENTO, Maria Filomena Dias. Ser mulher na Idade Média. Textos de História. Revista do Programa de Pós-Graduação da UNB. v. 5, n. 1, p. 82-91, 1997.
NERI, Christiane. Feminismo na Idade Média: conhecendo a cidade das damas. Gênero & Direito, v. 2, n. 1, 25 set. 2013.
SCOTT, Joan. História das mulheres. In: A escrita da História. Novas perspectivas. BUKER, P. (Org.). São Paulo: Editora Unesp, 1992. p. 63-95.
SOUZA, Daniele Shorne de. A cidade das damas e seu tesouro: o ideal de feminilidade para Cristina de Pizán na França do início do século XV. Dissertação de Mestrado em História – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013.
Parabéns pelo texto! Seu objeto de pesquisa é maravilhoso!
ResponderExcluirEu não conhecia a Pizan até ler este texto e fiquei realmente empolgada com essa fonte! Provavelmente irei ler mais sobre ela no futuro!
Gostaria de perguntar, se através de suas pesquisas foi possível entrever o alcance da obra de Pizan? Como a obra foi recebida na época em que foi lançada? Fiquei muito curiosa com isso! Imagino que os homens não tenham gostado muito do "calem-se"!
Muito obrigada por escrever esse texto e mobilizar tal fonte!
Tenha uma gloriosa semana!
Krishna Luchetti - UFRN
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ExcluirMuito obrigada pela pergunta! Grata pelo elogio! Uma fonte riquíssima! Pizan tinha consciência do lugar social que ocupava enquanto mulher e escritora, assim como também a consciência da repercussão que essa obra - assim como tantas obras que publicará – tomaria. Dado que ela estaria embatendo com a cultura misógina, contradizendo os grandes homens da sua época, e do passado. Desse modo é evidenciado no segundo livro dessa obra, na qual dialoga com dama Retidão, o temor que sua obra fosse acusada de falsidade e, continuarem a difamar as mulheres, afirmando não serem virtuosas (PIZAN, 2012, p. 261-262), uma vez que seu principal objetivo era desconstruir e desarticular a cultura misógina. Tendo em vista que Pizan tinha conhecimento e influência com as mulheres nobres e da Corte Real, dado que escrevia sobre encomenda para essas mulheres, assim como tinha produção independente. Mediante a sua influência no âmbito da nobreza, facilitou a propagação da sua obra, visto que nesse contexto poucas pessoas eram letradas, sendo de domínio dos homens da igreja e da nobreza. Assim, é evidenciado a tamanha repercussão dessa obra, dado que marcará o início da “Querelle des Femmes”, sendo ela precursora desse debate literário e político que perdurará até o século XVIII.
ExcluirMaristela Rodrigues Lima
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ResponderExcluirParabéns pelo trabalho, Maristela. Realmente esta fonte é muito importante e deveria ser trabalhada não somente em contextos universitários, mas também escolares.
ResponderExcluirA minha pergunta é: como Pizan apresenta em sua obra as relações entre homens e mulheres? Ela aborda somente a perspectiva de relações misóginas? Ou apresenta outros tipos de relações?
Luciano José Vianna
Olá, Luciano! Muito obrigada pela pergunta! Sem sombra de dúvida é uma fonte importantíssima e riquíssima!
ExcluirSobre seus questionamentos, enquanto as possíveis relações entre homens e mulheres, a obra é construída a partir de julgamento deles contra elas, diante disso, a maioria dessas relações eram distantes das mulheres, uma vez que eram os homens da Igreja que trataram de construir essas relações, muitas das vezes distorcidas da realidade, como também outros poetas, como Ovídio e Cecco d’Ascoli, que trataram de negativar a relação do homem com a mulher. No entanto, há diversas passagens que evidenciam essas relações fora do contexto misógino, como por exemplo, a relação da própria autora com o seu pai, a influenciando a permanecer no Campo das Letras, como também destaca o seu casamento feliz, isto é, a relação marido e mulher, uma vez que negativavam o casamento, todavia não apenas o casamento de Christine, como também de diversas outras mulheres, evidenciando o companheirismo e fidelidade feminina, e também a relação de mães para com seus filhos. Assim, o objetivo de Pizan não era construir uma cultura contra os homens, e sim, desconstruir a cultura misógina, além de abordar relações harmônicas e saudáveis entre homens e mulheres.
Espero ter respondido sua questão. Grata!
Maristela Rodrigues Lima
Estimada autora,
ResponderExcluirParabéns pelo coerente trabalho de análise e observação da obra. O domínio da temática é evidente. Entretanto, eu gostaria de saber se na obra da Cristine de Pizan é possível observar, na escrita da autora, ou no discurso que ela acredita, traços no pensamento medieval, caracterizado como masculino e cristão? Ou seja, existe alguma passagem do livro que podemos perceber que a autora, ainda que desconstrua o discurso misógino, está dentro do pensamento do período?
Atenciosamente
José Carlos da Silva Ferreira
Olá, José Carlos! Muito obrigada pela pergunta!
ExcluirChristine de Pizan é uma autora da sua época, e sem sombra de dúvidas a sociedade patriarcal e cristã a influenciou na sua escrita, por mais que embata com a cultura misógina, e seja vista por alguns intelectuais contemporâneos como protofeminista, ela traz na sua obra evidencias de ser uma mulher medieval, como por exemplo, quando dialoga com dama Razão sobre o porquê de determinados espaços apenas os homens tinham acesso, logo após, a dama justifica que Deus que tudo fez e organizou, separou o trabalho dos homens do trabalho das mulheres, tendo cada um sua função segundo o seu sexo. Cito o questionamento de Christine sobre o tribunal, o motivo das mulheres serem isentas desse espaço, a dama logo afirma que é um trabalho do homem e, predestinado por Deus. Mediante a isto, compreendemos que por mais que Pizan tinha consciência e lutava contra a cultura misógina, sua visão e valores eram cristãos, não embatendo com a “vontade de Deus” sobre a divisão dos trabalhos.
Maristela Rodrigues Lima