Fernanda Loch

MARIA LACERDA DE MOURA E SUBVERSÕES EM AMAI E... NÃO VOS MULTIPLIQUEIS

 

Introdução

 

A partir da temática da Escrita de mulheres e as subversões, buscamos nesse artigo, localizar e analisar as subversões de Maria Lacerda de Moura (1887-1945) presentes na sua obra Amai e... não vos multipliqueis. Maria Lacerda foi uma escritora, professora, anarquista e feminista brasileira e se destaca pela sua subversão em todas as instâncias da vida, inclusive seus escritos. Segundo a autora, somente a liberdade sexual traria a emancipação feminina. No livro selecionado, ela faz críticas à sociedade capitalista, moralista e clerical, propondo ações individuais para o combate desse sistema, em especial quando toca na questão da maternidade consciente, temática que colocamos em destaque.

 

Neste tópico introdutório estaremos apresentando alguns aspectos biográficos da trajetória da autora para posteriormente focar em alguns pontos subversivos do livro intitulado Amai e... não vos multipliqueis, do ano de 1932.

 

Maria Lacerda de Moura nasceu em Manhuaçu, uma cidade do estado de Minas Gerais, em 16 de maio de 1887. Os pais dela eram espíritas e anticlericais (LEITE, 1984, p. 144), então ela já tinha influência de casa ao anticlericalismo. Futuramente ela embasaria suas críticas sobre a Igreja Católica, elemento que é muito presente nos seus escritos.

 

Maria Lacerda formou-se como professora em 1904 e participou de campanhas nacionais de alfabetização e reformas educacionais. Os primeiros escritos dela foram publicados em 1912, em formato de crônica num jornal local. Nesses primeiros escritos alguns familiares da autora já pediram “mais moderação” nas palavras. Segundo ela mesma na sua autobiografia “Que lucta interior e que lucta mantive com o “que poderão dizer?”. (MOURA, 1929, p. 3 apud LEITE, 1984, p. 145). Neste momento podemos perceber uma primeira face de subversão ao enfrentar os julgamentos morais da própria família ao continuar escrevendo, apesar “do que poderiam dizer”.

 

Em 1921, aos 34 anos, ela se mudou para São Paulo. Importante salientar que a partir de 1912, Maria Lacerda de Moura continuou escrevendo, participando ativamente de associações de operários e fazendo discursos nessas organizações. Foram essas conferências, inclusive, que formaram contatos e que estabeleceram pontes para mudança dela para São Paulo. (LEITE, 1984, p. IX). Em São Paulo, a autora se inseriu nos movimentos de mulheres, sendo convidada a se unir com Bertha Lutz, com quem fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, precursora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Outra coisa interessante a se mencionar, foi que Maria Lacerda foi presidente da Federação Internacional Feminina entre 1921 e 1922, criando nos estatutos da organização uma cláusula pioneira, que dizia “trabalhar pela criação de uma cadeira de História da mulher, sua evolução e sua missão social em todas as escolas femininas”. (LEITE, 1984, p. 82). Como professora, queria inserir essa discussão feminista e a história das mulheres nas salas de aula, o que se configura como uma subversão ao que se era ensinado nas escolas. 

 

Em 1922, porém, Maria Lacerda de Moura começou a se afastar das organizações femininas por ser contra a pauta do sufrágio feminino. (RAGO, 2007, p. 278). Ela entendia que a luta pelo direito ao voto atendia uma parcela muito limitada das necessidades das mulheres.

 

Maria Lacerda de Moura se manteve próxima dos anarquistas durante o seu tempo em São Paulo (LEITE, 1986, p. 83) e também nunca abandonou o espiritualismo e as convicções teosóficas. (LEITE, 1984, p. IX). Na obra escolhida para a análise, Amai e... não vos multipliqueis, podemos identificar essas três bases nas quais os argumentos se fundamentam: a emancipação feminina, o anarquismo, e as convicções teosóficas. A autora é muito sóbria nas suas críticas à sociedade humana e em alguns momentos, parece que ela se expande ao místico, aos mistérios da vida e da natureza. Então ao lermos a obra, conseguimos perceber essa relação da autora com o espiritualismo e a teosofia. 

 

Em 1928, Maria Lacerda se mudou para uma comunidade agrícola de anarquistas individualistas e desertores europeus da primeira guerra mundial. Essa comunidade ficava em Guararema, região metropolitana de São Paulo. (LEITE, 1984, p. X) Nessa comunidade, viviam sem hierarquias, recusando as normas tradicionais da sociedade e exercendo um pacifismo ativo ao se opor a todas as formas de violência, de guerra e ao serviço militar. (LEITE, 1984, p. 90) O recolhimento de Maria Lacerda a Guararema, vai corresponder ao seu período de maior produtividade intelectual, tanto em número de livros, artigos e conferências como em repercussão de suas obras. (LEITE, 1984, p. 20-21). E foi esse o período em que Amai e... não vos multipliqueis, foi publicado, em 1932.

 

Amai e... não vos multipliqueis

 

Neste subtítulo apresentaremos alguns dos principais posicionamentos que Maria Lacerda de Moura colocou no livro. Para melhor organização, ele foi dividido em alguns eixos de análise: a não participação de nenhuma corrente ideológica; a prostituição; a família e ao casamento;

 

Já no início da obra a autora revela que não se enquadra em nenhum partido político, ideológico etc. e responde críticas que ela parece já ter ouvido:

 

“Por isso, repito: não sou advogado, não sou capitalista, não sou sacerdote, não sou político, não sou académico, não sou comunista nem socialista, não pertenço a nenhuma grei, embora todos os nomes batismais com que me desfavorecem os críticos. (MOURA, 1932, p. 20).

 

E ela reitera essa ideia em vários momentos do livro, dizendo não se envolver com nenhuma corrente ideológica. Isso nos ajuda a compreender, em partes, o motivo de apagamento dessa figura que é a Maria Lacerda de Moura. Ela é pouco conhecida e pesquisada porque não abraçou nenhum movimento, assim como, nenhum movimento a abraçou, sendo que a corrente que ela mais foi ativa e mais se identificou foi o anarquismo individualista. Então há a circulação da bibliografia dela nesse meio, mas fora dele, é pouquíssimo conhecida.

 

Maria Lacerda de Moura também adentra no assunto da prostituição. A autora coloca neste livro duas formas de usar o termo “prostituição”. O primeiro é a da prostituição de uma forma mais comumente falada, da mulher vendendo o sexo. Ela critica esse tipo de prática, mas de uma forma muito peculiar: não critica a prostituta, mas os homens que compram e usam do serviço e também a sociedade moral que se apoia na prostituição. Inclusive, a autora assinala que esses homens hipócritas que consomem a prostituição “são os que enchem a boca com as formulas de Deus! Patria! e Família!” (MOURA, 1932, p. 22). E argumenta:

 

“E' natural e lógico. A prostituição é um dos esteios mais poderosos da moral religiosa. As colunas sociais — governos, capital, militares e clericalismo — é preciso acrescentar a coluna central — a prostituição. [...]

É no "Cabaret", é no "Casino", é nos hotéis das praias elegantes que as quatro primeiras colunas sociais solidificam a solidariedade das suas formulas de defesa: Deus, Patria e Familia!

Apoiam-se na coluna central — a prostituição.

Admirável organização social!” (MOURA, 1932, p. 22-23).

 

Ela enxerga a prostituição como uma das principais bases da moral religiosa e de toda uma construção social pautada no capital, no militarismo, no clericalismo. Por identificar a prostituição como uma coluna central nessa sociedade, ela se posiciona contra, não pelo fato da prostituta em si, mas da sociedade que condiciona as mulheres a isso e aos moralistas que usam esse serviço e se dizem “honrados”.

 

O segundo uso do termo prostituição é com relação à sociedade. Qualquer pessoa que entra para a vida política, se rende ao sistema capitalista ou outras formas de dominação, estaria cometendo a sua própria prostituição.

 

Outro assunto que Lacerda se refere é à questão da família e do casamento. Maria Lacerda de Moura tem ideias anticlericais muito fortes pelo fato de que, segundo ela, a religião é um freio para manter a mulher dentro de uma suposta moral social. Uma das ferramentas da religião para isso são os casamentos. (MOURA, 1932, p. 29). Dentro do casamento ela critica o servilismo da mulher e o “sujeitar-se ao marido”:

 

“A "missão social" da mulher, o seu servilismo de domesticada, a sua fidelidade de escrava, leva-a a sujeitarse inconcientemente ás leis, a baixar a cabeça á superioridade masculina "incontestável" sob todos os aspectos, a cultivar a própria ignorância, a fazer filhos até se exgotar e a entrega-los estupidamente á Patria que, por sua vez, os dará ás guelas dos canhões — para abarrotar os cofres fortes de todos os Cesares do poder e do dollar.

Leva-a a sujeitar-se ao marido — "cabeça do casal", porque a mulher só deve ter cabeça de gramofone.

Direitos?

Deveres apenas e nem pode merecer mais nada como "rainha e deusa e santa do lar sagrado".” (MOURA, 1932, p. 66).

 

A autora argumenta que a base da família é a escravidão feminina. Nas palavras dela: “Familia quer dizer: servilismo, ignorância, escravidão exploração da mulher.” (MOURA, 1932, p. 69).

 

Maria Lacerda de Moura critica todo esse modelo de sociedade (capitalista, moralista, clerical) e acredita que não é por meio do voto feminino que as mulheres vão conseguir a sua emancipação, visto que continuariam sendo exploradas por meio do casamento.

 

A maternidade consciente em Amai e... não vos multipliqueis

 

O último eixo que analisaremos é o da maternidade consciente. O primeiro trecho que Maria Lacerda de Moura cita sobre o assunto é o seguinte:

 

“Descobriu-se agora que o século XX é o século da mulher. O homem se apercebe que sua companheira não deu tudo quanto pôde dar. E' mais uma fonte de energia a ser explorada.

Descoberta preciosíssima.

As inúmeras necessidades lançadas na vida pela civilização industrial, atiraram também a mulher ao balcão do trabalho absorvente. Uma escravidão — a do lar e da maternidade imposta veio juntar-se a outra escravidão — á do salário.” (MOURA, 1932, p. 46-47).

 

A autora critica a maternidade imposta, e argumenta que esse elemento faz parte da dupla escravidão que a mulher sofre: a do lar e a do trabalho. Maria Lacerda defende que a mulher não deve ser mãe antes de tudo, mas sim realizar-se na sua plenitude. “A questão não é dogmatizar que a mulher, antes de tudo, é mãe e deve ser mãe acima de tudo. Não. Todo individuo, homem ou mulher, deve realizar-se, na plenitude das suas forças.” (MOURA, 1932, p. 184).

 

Essa realização na sua plenitude, para a autora, inclui também a liberdade sexual das mulheres: 

 

“A liberdade sexual da mulher será a conquista que remodelará por completo o velho mundo.” (MOURA, 1932, p. 165).

 

Para Maria Lacerda de Moura a única forma de se emancipar a mulher é através da liberdade sexual feminina, porque segundo a autora, as reinvindicações civis e políticas só incluiriam a mulher na “prostituição política”, e assim continuariam nesse sistema desigual de privilégios masculinos, com os homens dominando o seu corpo e as suas vontades.

 

A principal ideia do livro acerca da maternidade expressa justamente sobre as ações individuais das mulheres para o combate de todo esse sistema social. Maria Lacerda argumenta o seguinte:

 

“Não creio em reformas sociais: creio na realização individual. Assim, me são indiferentes todas as cruzadas podais, todos os grupos, as coletividades, as associações. (MOURA, 1932, p. 221).

E a greve dos ventres, a maternidade desejada e consciente, ou o protesto contra a maternidade imposta pelo comodismo ou pela perversidade masculina — é o metodo feminino de ação direta.” (MOURA, 1932, p. 225).

 

Assim, ela declara que as mulheres devem se recusar a dar munição para as guerras exercendo uma maternidade consciente e uma greve dos ventres. Maria Lacerda de Moura seguiu isso em sua própria vida, de fato, não teve filhos biológicos, apenas dois filhos adotivos. Em 1912 adotou um sobrinho, Jair, e uma órfã, Carminda. (LEITE, 1984, p. VIII). Jair, inclusive, deu muito desgosto à autora posteriormente, porque se filiou aos integralistas em 1935. (LEITE, 1984, p. 72). 

 

Sobre as mulheres que não tem filhos, Maria Lacerda disserta o seguinte:

 

“Ha mulheres cuja existência é um gesto de nobreza e devotamento e nunca tiveram filhos.

E ha mães que antes não o fossem.

Fazer da maternidade o "pivot" em torno do qual deve girar a vida da mulher, é absurdo, é preconceito arraigado no subconciente de todos, inclusive dos libertários ou dos cientistas.” (grifo nosso) (MOURA, 1932, p. 236). 

 

Na segunda metade do século XX, o determinismo biológico da maternidade começou a ser refutado. As mulheres começaram a questionar, inclusive teoricamente, o destino social de serem mães. Um marco para isso é a publicação do Segundo Sexo, em 1949, por Simone de Beauvoir, que acaba dando bases ao feminismo contemporâneo, e a “politização das questões privadas”, relativas à vida das mulheres. (SCAVONE, 2001, p. 2). Percebemos que a Maria Lacerda de Moura já critica o determinismo biológico da maternidade nos anos 1930 e esse é um dos aspectos mais subversivos de sua obra.

 

Segundo Marcela Nari, a maternalização das mulheres, ou seja, a progressiva mistura entre mulher e mãe, feminilidade e maternidade, desenvolveu-se gradualmente em diferentes âmbitos e planos da vida social, do mercado de trabalho, das ideias, das práticas científicas e políticas. Foi um processo que ultrapassou as fronteiras nacionais no Ocidente e que se apresentou mais nítido em fins do século XVIII. (NARI, 2004, p. 101).

 

A maternalização - concepção que emanava, era legitimada e justificada pela ciência médica e se pretendia irrefutável - estava inscrita na ideia da natureza feminina e implicava na obviedade de que elas podiam ser mães ou que só deveriam ser mães. Qualquer outro uso do corpo, desde a sexualidade até o trabalho assalariado supostamente ameaçava a reprodução e tudo que a ela estava vinculado, como a família, a sociedade, ou a “raça”. (NARI, 2004, p. 101).

 

Nesse sentido, Maria Lacerda também defende que a humanidade se reproduza com qualidade, não quantidade:

 

“Comer e Amar.

Será solucionado no dia em que a humanidade, pelos seus maiores, tiver a noção consciente da responsabilidade de se reproduzir em qualidade e não em quantidade.

O problema humano, sob o aspecto social, é um problema sexual.” (MOURA, 1932, p. 113).

 

Para Maria Lacerda de Moura, comer e amar são as duas ações fundamentais do ser humano, e tudo gira em torno disso. E a frase “O problema humano, sob o aspecto social, é um problema sexual” (MOURA, 1932, p. 113; 121; 122; 131; 165; 241) vai se repetir em vários outros momentos do livro e é de fundamental importância na mensagem central desta obra e do pensamento da autora, no sentido da emancipação da mulher, da desigualdade entre os sexos e no “problema da natalidade”, da maternidade consciente. É importante notar também que o discurso de se reproduzir em “qualidade e não em quantidade” é muito comum nas concepções eugênicas. (STEPAN, 2005, p. 115-148).

 

Maria Lacerda também concorda com as ideias malthusianas, como podemos identificar no seguinte trecho:

 

“Quando li Malthus e Drysdale, convenci-me de que a lei de população é o máximo problema social: envolve a todos os outros problemas: comer e amar.

A conclusão se impõe: toda e qualquer tentativa para a paz, para a diminuição da miséria, para o bem estar, para a fraternidade é impossível, sem a restrição consciente da natalidade e a maternidade livre e consciente e limitada.” (MOURA, 1932, p. 121-122).

 

Ou seja, tem um discurso, em partes, contraditório, justificando a miséria e os problemas sociais com a natalidade alta, ao mesmo tempo que defende a “maternidade livre”, porém “limitada”. 

 

Considerações finais

 

Através da análise dessa obra de Maria Lacerda de Moura pudemos perceber que a crítica da autora quase sempre tem dois níveis. Essa dupla camada crítica se refere, a princípio, ao âmbito das relações entre homens e mulheres e da emancipação feminina e depois se expande a uma crítica a todo o sistema: sistema capitalista, moralista, militarista e clerical, como podemos identificar no caso da prostituição, da família, do voto, da maternidade, etc. 

 

Maria Lacerda é muito subversiva em vários aspectos e neste artigo tivemos que fazer recortes de alguns pontos principais da obra selecionada. Assim, desde que começou a escrever, enfrentou julgamentos morais da própria família e da sociedade. Preferiu não gestar uma criança e exercer uma maternidade adotiva, contrariando o ideal de maternidade e de feminilidade da época. Sempre discursou a favor da emancipação da mulher, da liberdade sexual, da realização individual e assim buscou viver. Ou seja, tanto em sua vida privada e pessoal, quanto nos seus escritos, é difícil pensarmos em algo que a autora não seja subversiva. 

 

Apesar disso, percebemos alguns argumentos com cunho eugenista, como a noção de “qualidade” de reprodução e “evolução da humanidade”, revelando como cada pessoa e intelectual é fruto do seu próprio tempo e transparece algumas concepções dominantes do período no qual viveu.

 

Ainda que Maria Lacerda de Moura tenha tratado de maneira pioneira sobre a educação e história das mulheres, por exemplo, ou acerca de questões centrais do feminismo ainda hoje, são poucas as pesquisas que investigam a autora. Como já mencionado anteriormente, ela é pouco conhecida por não ter defendido nenhum movimento e esse é um fator que pode vir a explicar essa escassez de trabalhos. É importante salientar que apenas em Amai e... não vos multipliquei ainda há uma infinidade de eixos temáticos para a análise, assim como outras obras a serem investigadas.

 

Ela faleceu em 20 de março de 1945, no Rio de Janeiro, com 57 anos. Teve uma vida muito curta, porém intensa e que precisa ser lembrada. (MAIA; LESSA, 2019, p. 63-64).

 

A forma como Maria Lacerda de Moura critica o modelo de sociedade elitista, capitalista, patriarcal e moral, foi, e ainda é, uma grande contribuição às ideias feministas. Mesmo que ela não se denomine como uma, concordamos com Margareth Rago ao considerar os feminismos como: 

 

“linguagens que não se restringem aos movimentos organizados que se autodenominam feministas, mas que se referem a práticas sociais, culturais, políticas e linguísticas, que atuam no sentido de libertar as mulheres de uma cultura misógina e da imposição de um modo de ser ditado pela lógica masculina nos marcos da heterossexualidade compulsória.” (RAGO, 2013, p. 7-8).

 

Assim, a escrita de mulheres, suas linguagens e discursos se constituem como instrumentos fundamentais para uma reformulação das representações sociais de gênero, pelos quais se organizam a dominação cultural, bem como a resistência.

 

Referências Biográficas

 

Fernanda Loch é mestre e licenciada em história pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente é professora da rede básica de ensino do estado do Paraná.

 

Referências Bibliográficas

 

LEITE, Míriam Lifchitz Moreira. Maria Lacerda de Moura e o anarquismo. In: PRADO, Antonio Arnoni (org.). Libertários no Brasil: memória, lutas, cultura. São Paulo: Brasiliense, 1986.

 

LEITE, Míriam Lifchitz Moreira. Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo: Ática, 1984.

 

MAIA, Claudia; LESSA, Patrícia. Maria Lacerda de Moura e a luta antifascista (1928-1937). Caderno Espaço Feminino, v.32, n.2, jul./dez. 2019.

 

MOURA, Maria Lacerda de. Amai e... não vos multipliqueis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira Editora, 1932.

 

NARI, Marcela. Políticas de maternidad y maternalismo político: Buenos Aires, 1890-1940. Buenos Aires: Biblos, 2004.

 

RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas: Editora Unicamp, 2013.

 

RAGO, Margareth. Ética, anarquia e revolução em Maria Lacerda de Moura. In: FERREIRA, Jorge, REIS, Daniel Aarão (org.). As esquerdas no Brasil, vol. 1. A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2007.

 

SCAVONE, Lucila. A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais. Cadernos Pagu, 16, 2001.

 

STEPAN, Nancy Leys. A hora da Eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.

11 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pela pesquisa! Muito interessante!!! Eu gostaria de saber quais as possibilidades de trabalhar com essa autora( Maria Lacerda de Moura) na educação básica. Acredita que o curriculo possibilita isso? Há espaço para o debate temático das ideias defendidas por Lacerda de Moura?
    atenciosamente,
    Georgiane Garabely Heil Vázquez

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    1. Obrigada pela leitura e pelo questionamento, Georgiane!

      Acredito que há várias possibilidades para se trabalhar com a autora na educação básica, especialmente quando falamos de teorias sociais e políticas surgidas no século XIX (anarquismo) e a as desigualdades de gênero que perpassam o período. Além disso, outro ponto importante é o sufrágio feminino. Porém, a lista de assuntos não se esgota aqui. As obras da autora são fontes muito ricas e precisam ser exploradas.

      Abraços,
      Fernanda Loch

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá, profa. Fernanda. Parabéns pelo trabalho. Achei interessante como as discussões propostas pela Maria Lacerda de Moura de certa forma "antecipam" algumas questões acerca da associação entre os temas de classe e gênero, naquilo que hoje talvez se aproxime do tema da "interseccionalidade". Não é exatamente uma questão, mais um comentário, caso queira estabelecer algum diálogo nessa direção.
    Obrigado!
    Josias José Freire Júnior

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    1. Olá, Josias.
      Obrigada pela leitura e pelo comentário.

      Realmente a Maria Lacerda de Moura antecipa muitas questões que seriam apenas tratadas décadas depois, como a maternidade compulsória, etc.
      Acho que esse tema da interseccionalidade pode ser pensado especialmente no eixo sobre o voto feminino, que a Maria Lacerda de Moura falava que não mudava a situação da maioria das mulheres (pobres, negras, etc) e por isso era contra... Ela também coloca a questão da emancipação feminina em confronto com a luta de classes, no sentido de não ser uma luta secundária, como muitos defenderam até pós anos 80...
      Enfim, são vários exemplos que me deram essa impressão de "antecipação" de discussões futuras, que só começariam a falar no fim do século e a Maria Lacerda de Moura já estava discutindo nos anos 30. Super legal.

      Obrigada, Josias!
      Abraços,
      Fernanda Loch.

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  4. Mariana Barbosa de Souza27 de maio de 2021 às 14:52

    Olá, Fernanda!!

    Que texto maravilhoso. Particularmente desconhecida a trajetória de Maria Lacerda de Moura e foi incrível saber mais sobre ela.
    A minha pergunta relaciona-se ao contexto atual. Diante do avanço de táticas neoliberais e políticas anti-gênero, sobretudo com o incentivo do atual governo que pratica uma política genocida, quais são as dificuldades que podem ser encontradas ao se trabalhar temas como os que você abordou, em sala de aula?

    Obrigada pela atenção.
    Mariana Barbosa de Souza assina esse questionamento.

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    1. Olá, Mariana!
      Obrigada pelo comentário e pela questão!

      Acredito que em todas as temáticas que aborda, o/a professor/a de história pode ser injustamente criminalizada/o apenas por fazer os estudantes pensarem nos problemas sociais de classe e gênero. Num contexto de aulas remotas e online é muito difícil levantar discussões relacionadas com essas temáticas, porque os pais e familiares das crianças estão ao lado, julgando o trabalho do professor/a. Maria Lacerda de Moura pode vir a ser uma porta para se iniciar esse debate de uma forma não incisiva... É muito interessante que a autora debate questões até sobre homossexualidade. Então trazer para os estudantes, uma autora, que nos anos 30 (há quase 100 anos!) já fala disso, um assunto ainda considerado um tabu, pode ser uma ferramenta para transgredir essas dificuldades dos nossos (tristes) tempos...

      Obrigada!!
      Abraços,
      Fernanda Loch.

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  5. Olá Fernanda!

    Adorei seu texto! Na minha monografia também pesquisei a trajetória de uma mulher, sendo que uma mulher comunista. Gostaria de saber se você conhece ou tem algum livro específico da Maria Lacerda que ela faça críticas em especial ao comunismo, e as mulheres engajadas em partidos de esquerda?

    Daiane da Silva Vicente

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    1. Oi, Daiane!
      Que interessante a sua temática! Qual mulher você pesquisou? Fiquei curiosa.
      Então... Esse texto foi fruto de uma disciplina de pós-graduação em história na UFPR, sobre escrita de mulheres e subversões. Esse livro da Maria Lacerda de Moura foi o único que eu li, mas as críticas dela parece que recaem especialmente sobre HOMENS de esquerda... Ela faz a descrição certinha do que hoje chamamos pejorativamente de "esquerdomacho", sabe? Hahaha. Ela também faz críticas ao movimento feminista (que na época lutava pelo sufrágio). Sobre mulheres de esquerda, em específico, não me recordo.
      De qualquer forma, deixo aqui a lista de (algumas) obras da Maria Lacerda de Moura disponível num livro da Margareth Rago, caso queira dar uma consultada:
      Principais Obras de Maria Lacerda de Moura


      - Em torno da Educação. São Paulo: Teixeira, 1918
      - A mulher é uma degenerada? São Paulo: Typ. Paulista, 1924, 1ª ed.; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1932, 3ed.
      - Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: Condor,1926
      - Han Ryner e o Amor Plural, São Paulo: Unitas, 1928
      - Prefácio a Júlio Barcos - Liberdade Sexual das Mulheres. Traduzido por ela, 4ª ed., 1929 - Civilização – tronco de escravos. Rio de janeiro: Civilização Brasileira,1931
      - Amai e não vos multipliqueis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1932
      - Serviço militar obrigatório para a mulher? Recuso-me! Denuncio! São Paulo: A Sementeira, 1933
      - Clero e Fascismo – Horda de Embrutecedores. São Paulo: Editorial Paulista, 1934
      - Ferrer, o Clero Romano e a Educação Laica. São Paulo/s.n., 1934
      - Fascismo - filho dileto da Igreja e do Capital. São Paulo: Editorial Paulista, s/d

      (In: RAGO, Margareth. Ética, anarquia e revolução em Maria Lacerda de Moura. In: FERREIRA, Jorge, REIS, Daniel Aarão (org.). As esquerdas no Brasil, vol. 1. A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2007.)

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    2. Olá Fernanda!
      Eu pesquisei a trajetória política da Adalgisa Cavalcanti. Muito obrigada pela resposta e pelas indicações.

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  6. Oi Fernanda, parabéns pelo texto!

    Tenho pensado nos últimos anos sobre as possibilidades didáticas para inclusão da temática de gênero na escola e, uma delas é o trabalho com escrita de mulheres e de biografias. No pouco que temos sobre a história das mulheres na narrativa didática são temas genéricos, com poucas personagens nominadas. Acho que falar de história de mulheres, dar nomes e rostos femininos para a história, pode ser uma boa forma de inserir o debate na sala de aula.

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