Ivana Aparecida da Cunha Marques

EVA PERÓN: ENTRE O SANTO E O PROFANO

 

 

A figura histórica de Eva Perón (1919-1952), primeira-dama argentina entre os anos de 1946 e 1952, está atrelada ao engendramento de um imaginário social composto por aversão, curiosidade, doses de religiosidade, etc., e que possui vínculos com a memória do indivíduo e da coletividade. Então, considerar esta construção, significa, entre outras coisas, refletir sobre as representações e apropriações elaboradas sobre Evita, as quais resultaram em produções literárias, cinematográficas, artísticas e historiográficas.

 

Para Delgado (2003), a memória tem funções limítrofes que se relacionam com o estabelecimento e legitimação de identidades. Nela se encontram níveis e esferas consolidadas, ou seja, lembranças evidentes ligadas às emoções, assim como, componentes inconstantes e flexíveis, por intermédio dos quais é possível a reestruturação dos fatos históricos.

 

“Tempo, memória e história caminham juntos. Inúmeras vezes, através de uma relação tensa de busca de apropriação e reconstrução da memória pela história. (...) Sem qualquer poder de alteração do que passou, o tempo, entretanto, atua modificando ou reafirmando o significado do passado. Sem qualquer previsibilidade do que virá a ser, o tempo, todavia, projeta utopias e desenha com cores do presente, tonalizadas pelas cores do passado, as possibilidades do futuro almejado (DELGADO, 2003, p .10).”

 

Não é possível, então, analisar a questão da memória em termos de linearidade, já que ela abarca negociações e temporalidades sui generis, existentes, em muitos casos, em estratos profundos em relação à marcação didática do tempo. Ou seja, é preciso considerar os conchavos mantidos entre a memória do indivíduo e a dos demais agentes histórico-sociais, sendo que elas se conectam, da mesma forma que os sujeitos dialogam com seu agrupamento e com elas.

 

Socialmente, as memórias se reconstroem de maneira amiúde, sendo que não estão alheias ao passar do tempo e aos acontecimentos historicizados – e suas relações com os indivíduos e as novas discussões trazidas à superfície em diferentes contextos. Elas, mesmo que plurais, só adquirem solidez e significados por intermédio das ações humanas, que se tornam objeto de estudo dos historiadores (DELGADO, 2003).

 

Equilibrada entre os pólos do maniqueísmo ‘meretriz’ e ‘santa’, as interpretações e memórias recuperadas sobre Eva Perón ainda estão muito presas às dicotomias, especialmente quando os debates deliberam sobre a origem desta primeira-dama e os interesses dela no projeto político do peronismo.

 

Não obstante, de acordo com Teixeira (2013), que teceu uma pesquisa acerca da produção Santa Evita, livro do jornalista Tomás Eloy Martinez, lançado no ano de 1995, existem possibilidades interpretativas – periféricas e não ‘oficiais’, em muitos casos – que passam ao largo desta lógica dicotômica.

 

Ao se falar em Eva Perón, é importante ponderar que em seu contexto, ou seja, a Argentina da primeira metade do século XX, o espaço público ainda era um esfera quase que completamente dominada pela atuação masculina, de modo que a movimentação de Evita - como figura política, em meio a este espaço - significou um motivo de espanto para os grupos conservadores argentinos. Além disso, contar, neste âmbito, com uma mulher de origem considerada baldia e controversa, e que possuía uma imagem tida como imoral e hiperssexualizada, representava “O retorno dos piores resíduos da barbárie” (TEIXEIRA, 2013, p. 04).

 

Conforme apontou Sebreli (2000), a personagem de Evita envergonhava o Exército, a Igreja, as famílias burguesas e, consequentemente, os valores tradicionais defendidos por estes grupos e instituições. Assim, ao ter galgado ao posto de primeira-dama da Argentina, Eva afrontou as imposições moralistas desta sociedade, considerando que, em sua figura, ela manifestava e representava a periferia social, já que era fruto da pobreza e de uma carreira artística de pouco sucesso, num contexto em que as profissões de atriz e cantora eram, de certa forma, vinculadas ao meretrício.

 

“Evita encarnou o caráter da personagem do bastardo de Sartre: filha natural, e também à margem de duas classes, classe média alta por parte de pai, classe baixa pela mãe. Sua condição marginal fixada pela memória infantil traumática de discriminação pela família no velório do pai levou-a a rejeitar a vida convencional, ao desejo de ser outra que ela mesma [...]” (SEBRELI, 2000, p. 73-74) (Tradução livre da autora).”

 

Evita foi uma personalidade múltipla que se desdobrou em versões, contraditórias e divergentes, à ela designadas, como, por exemplo, a da atriz imoral e da esposa santificada. Neste segundo caso, Evita foi e continua sendo percebida, segundo Sebreli (2000), num espaço de submissão, falta de mobilidade, e de reprodução de ideais do antifeminismo.

 

No entendimento dos antiperonistas que, desde o início da carreira política de Evita já buscavam desqualificar sua imagem, a primeira-dama teria se utilizado de sua capacidade retórica e da promoção de ações sociais realizadas junto às crianças e trabalhadores(as) argentinos(as), para manipular as massas e persuadi-las em benefício de Perón que, de acordo com esta interpretação, preservava relações com o nazifascismo.

 

Porém, esta é apenas uma das leituras possíveis de se fazer acerca de Eva Perón, já que sobre ela não há coesão sem contradições, nuances e sinuosidades. Silva (2014), por exemplo, analisou que a chamada Lenda Negra, se trata de uma compreensão construída com a finalidade de dessacrar Evita, contestar as informações sobre seu passado e ratificar o seu discurso demagógico que, de acordo com tal apropriação, fora utilizado pelo peronismo para forjar uma aproximação entre ela e os descamisados, que serviria como instrumento de fortalecimento daquele projeto político.

 

Acerca do conceito de descamisado, Waissbein (2018), por intermédio da análise de fontes orais e escritas, datadas do início do governo de Perón, esclareceu que esta expressão só foi usada em 14 de dezembro de 1945, quando ocorreu o primeiro discurso marcante da campanha política do peronismo. Neste evento, Juan Perón respondeu uma declaração da imprensa que, no dia 07 de dezembro daquele ano, afirmou: “Ao ex funcionário Perón e à ralé descamisada” (WAISSBEIN, 2018, p. 131). Ofendido, o candidato à presidência e esposo de Evita, rebateu:

 

“Desfilaremos em nossas ruas tranquilas, estudantes de nossa causa, sem qualificar ninguém como ralé ou descamisado para contrabalançar os [sic, para "o"] que lançaram o qualificativo desdenhoso. Tenhamos um bom coração debaixo de uma camisa, o que é melhor do que ter um ruim debaixo de uma jaqueta!” (WAISSBEIN, 2018, p. 131) (Tradução livre da autora).”

 

Se sentindo afrontado, Perón deixou evidente o seu desagrado com a adjetivação dada aos apoiadores do peronismo que, segundo sua assimilação, foram tomados como ‘populacho’.

 

A forma com que Perón percebia e empregava publicamente esta qualificação só se alterou em 17 de outubro de 1946, quando ele a utilizou como uma identificação relacionada à um movimento de maiores proporções. Assim, os descamisados, antes apropriados como agrupamentos de esfarrapados, a partir daquele marco, se transformaram numa classe social liderada por Perón e dotada de natureza, estruturação e demandas particulares.

 

Não obstante, por parte de Perón, a adoção definitiva deste conceito ocorreu paulatinamente, diferente do que sucedeu com Eva, quem se valeu deste termo de modo frequente e apaixonado. De acordo com ela, tal expressão não abrangia apenas questões simbólicas, mas elementos materiais de existência, já que o reconhecimento de um descamisado levava como critério o pertencimento do sujeito ao povo. Segundo ela:

 

“Eu não sou mais do que uma mulher do povo argentino, uma descamisada da Pátria, mas uma descamisada de coração, porque eu sempre quis me misturar com os trabalhadores, com os idosos, com as crianças, com os que sofrem, trabalhando lado a lado, coração com coração com eles para fazê-los querer mais a Perón e para ser uma ponte de paz entre o general Perón e os descamisados da Pátria (MUNDO PERONISTA, nº 04, setembro, 1951, p. 29).”

 

Para Avelino (2014), a origem humilde de Evita contribuiu para a potencialização e sensibilização das ações sociais promovidas por ela, de modo que a primeira-dama se converteu em mãe e conselheira dos necessitados, rezando por eles e os ouvindo e norteando.

 

Como personalidade política, sua figura se destacou devido à sua capacidade discursiva, envolvida por candência e afeto quando ela a utilizava para se direcionar aos descamisados. Porém, quando as oligarquias eram as receptoras, o seu tom ganhava traços de agressividade, de tal modo que as populações marginalizadas da Argentina passaram a perceber Eva como um alguém que dava forma ao peronismo e reconhecia as bandeiras do povo pobre (AVELINO, 2014).

 

A postura marcante de Evita fez com que a possibilidade da sua candidatura como vice-presidente às eleições de 11 de novembro de 1951 fosse muito apoiada pelos descamisados, mas, por outro lado, grandemente combatida pelos grupos sociais tradicionais da Argentina. Tais embates se mantiveram, inclusive, mesmo após o conhecimento público de que a primeira-dama estava sendo acometida por um câncer de útero.

 

“Era o confronto estabelecido entre dois grupos heterogêneos, que surgiu nas oportunidades mais desumanas e maléficas[...] Nos muros que ladeiam a estação Retiro, não muito longe da residência presidencial onde Evita agonizava, alguém pichou uma divisa de mau agouro: ‘Viva o câncer’ (AVELINO, 2014, p. 54).”

 

Nesse contexto, as divergências existentes entre peronistas e antiperonistas se acentuaram, e movimentos de massa emergiram. As mobilizações de posição, apoiadoras do governo de Perón, obtiveram destaque no comício peronista de 22 de agosto de 1951, quando defenderam a candidatura de Evita para as futuras eleições, o que, de fato, não ocorreu devido ao avançar de sua doença.

 

“Crescem as manifestações de adesão a Eva no grande comício da Avenida 9 de Julho, a 22 de agosto de 1951, que se limitara em sua fala a declarações de apoio a Perón. Este, em dado momento, toma o microfone, provocando protestos da multidão, que exige a palavra de Evita assumindo sua candidatura, propondo-se uma greve geral, diante da oposição que ela sofria de certos setores (SOIHET, 2000, p. 44).”

 

Para Siva (2004), naquela ocasião o presidente teve medo de ser ocultado pela figura política crescente e central de Evita, a qual havia ganhado muitos admiradores devotados. Deste modo, a aversão dos antiperonistas não se justifica por uma possível cooptação de Eva pelo peronismo, mas, contrariamente, devido à sua autonomia e interferência em questões político-sociais.

 

“Era uma mulher atuante, que interferia; uma ‘ponte’ que leva o povo ao General Perón. Eva Duarte de Perón não era mera coadjuvante, nasceu para ser atriz principal da política argentina. Já que não se consagrou nos palcos da ficção, firmar-se-ia nos palcos da realidade (SILVA, 2004, p. 27).”

 

Assim, por intermédio da atuação e dos trabalhos ensejados por Evita no peronismo, as mulheres argentinas, por exemplo, ascenderam ao cenário político e puderam se movimentar num espaço que era marcado, entre outras coisas, por possuir um molde que privilegiava a participação dos homens - independentemente das ideologias e posicionamentos políticos dos sujeitos. De acordo com Avelino (2014, p. 56): “Podemos, sem receio de erro, afirmar que uma das bases teóricas do incipiente movimento de liberação da mulher na Argentina tem em Eva Perón uma de suas mais fortes precursoras.”

 

A partir destas leituras, é possível compreender que Evita se convertera em uma liderança popular relacionada à uma concepção maternal, o que explica a denominação de madre de los descamisados (a mãe dos descamisados), maneira carinhosa com que a primeira-dama era conhecida nos círculos peronistas. Artística ou politicamente, com sua retórica apurada, ela direcionava discursos efervescentes às multidões, propagava ideais do peronismo e atuava a favor da classe trabalhadora e suas demandas.

 

Ela pode ser reconhecida como uma ‘ponte’ entre o povo e Perón, ou ainda, um elemento de ligação que intermediava as exigências sociais e o Estado peronista. De acordo com ela: “Sou uma ponte entre Perón e o povo. Passem por mim” (ORTIZ, A., 1995, p. 168 apud SILVA, 2004, p. 35) (Tradução livre da autora).

 

As querelas interpretativas sobre Eva Perón, apesar de entenderem as incoerências de tal figura, têm suas discussões norteadas por abordagens maniqueístas, (como, por exemplo, a de ‘tradicionalista versus feminista’ e ‘santa versus meretriz’), que em sua maioria, se relacionam à lógica da disputa política-ideológica dos peronistas e antiperonistas. Suplantando extremos, Evita deve ser reconhecida como uma figura historicizada, para assim ser analisada com base em sua localização num contexto, com demandas e valores específicos. Só deste modo será possível compreender os vínculos existentes entre a sua trajetória artística e o seu desempenho político, e as contradições entre um alguém que, ora se mostrava fiel às normais sociais impostas, ora se reconhecia como uma personalidade pioneira em diversos aspectos. De qualquer forma, é necessário apreendê-la a partir de perspectivas múltiplas e distintas, que deem conta de identificar os matizes aparentes e tácitos, reconhecer suas motivações como sujeita político-social, e ultrapassar as apropriações míticas, religiosas e estereotipadas.

 

Referências biográficas

 

Ma. Ivana Aparecida da Cunha Marques, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPH) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

 

Referências bibliográficas

 

AVELINO, Yvone Dias. La madre dos descamisados. Eva Perón: vida e trajetória política. Cordis. Mulheres na história, São Paulo, v. 2, n. 13, julho-dezembro, 2014.

 

DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral e narrativas: tempo, memória e identidades. Historia Oral, v. 6, 2003, p. 9-25.

 

MUNDO PERONISTA, Haynes Publishing, Buenos Aires, n. 04, set./1951.

 

SEBRELI, Juan José. Los Deseos Imaginarios del Peronismo. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2000.

 

SILVA, Ana Carolina Ferreira. Santa Evita e suas aparições. Juiz de Fora, 2004, 144 f. (monografia) – Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004.

 

SILVA, Paulo Renato da. Memória e História de Eva Perón. Rev. Hist., São Paulo, n. 170, janeiro- junho, p. 143-173, 2014.

 

SOIHET, Rachel. Alguns comentários a partir do artigo de Marta Zabaleta: o Partido Peronista feminino: História, características e consequências. (Argentina 1947- 1955). Diálogos, DHI/UEM, Maringá, v.4, n. 4, 2000, p. 41-47.

 

TEIXEIRA, Luciana Medeiros. Essa mulher: as múltiplas representações de Eva Perón. A construção do mito e as disputas políticas em Santa Evita de Tomás Eloy Martínez. Anais do SILEL, Uberlândia: EDUFU, vol.3, nº1, 2013.

 

WAISSBEIN, Daniel. Descamisado(s), descamisada(s). Palabra y concepto durante el peronismo. Prohistoria, n. 30, 2018, p. 129-154.

  

13 comentários:

  1. Primeiramente, parabéns pelo texto, ótimas colocações em todo o corpo do trabalho publicado! Minha dúvida torna-se ao termo "mãe dos descamidos" poderia citar alguns motivos a mais que poderia ter dado a ela tal título? Att

    Eduardo Silva Leite

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    1. Olá, Eduardo! Muito obrigada pela leitura e pelo elogio. Sobre o epíteto dado à Eva, não conseguimos entendê-lo se não considerarmos o contexto em que ela atuou (Argentina, primeira metade do século XX). Mesmo o peronismo, que rompeu formalmente com algumas barreiras no que se refere à igualdade político-social entre homens e mulheres, como ocorreu com a conquista do sufrágio feminino, em 1947, entendia que essas personagens se relacionavam à lógica dos ideais de feminilidade, de maternidade e de restrição ao espaço do lar. Então, considero que Eva se converteu em 'madre' porque, naquele período, parecia muito difícil desvencilhar a imagem da mulher - mesmo a pública - da figura de mãe. E Eva fazia questão de reiterar esse seu papel social, seja em seus discursos, seja em suas ações de cunho assistencialista. Abraços.


      Ivana Aparecida da Cunha Marques

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  2. Parabéns pelo texto, muito interessante o tema!
    É muito importante problematizar essa dualidade com que essa mulher, uma figura política tão influente e importante foi e é retratada!
    Diante disso, gostaria de lhe perguntar como chegou a tal problemática? Fiquei realmente muito curiosa imaginando quais foram suas motivações para estudar esse tema, em especial essa questão dos signos imputados a essa mulher!
    Novamente lhe desejo os parabéns e uma gloriosa semana!
    Krishna Luchetti

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  3. Olá, Krishna! Obrigada pelo carinho com meu trabalho.
    Então, na iniciação científica analisei as interpretações e apropriações sobre a Evita, mas no mestrado minha abordagem foi mais as vinculações existentes entre essa figura política e a indústria da moda, e como Eva deixou sua beleza, gestualidade e indumentária serem instrumentalizadas pelo peronismo. Porém, agora no doutorado busco fazer algo próximo de analisar novamente essas releituras, mas sempre pensando que as interpretações dizem mais sobre quem interpreta do que quem é interpretado. Conheci essa personagem no início da graduação, por meio de um documentário interessantíssimo, chamado "Evita, o Túmulo Sem Paz", e desde então busco pensá-la para além dessas dicotomias - e um tanto distante dos extremismos e fanatismos. Espero ter respondido sua questão. Abraços!


    Ivana Aparecida da Cunha Marques

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  4. Olá Ivana!
    Parabéns pelo texto! Gostei muito. Gostaria de saber, nos discursos de Eva Perón é possível encontrar algo que se aproxime dos discursos feministas?

    Daiane da Silva Vicente

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    1. Oioi, Daiane. Obrigada!
      "Todos os dias milhões de mulheres abandonam o campo feminino e começam a viver como homens. Trabalham quase como eles. Preferem, como eles, a rua à casa. Não se resignam a ser mães nem esposas [...]. Isso é feminismo? Eu penso que deve ser mais bem o masculinizar do nosso sexo” (DUARTE DE PERÓN, 2016, p. 273).
      Esta é uma citação da autobiografia de Evita, intitulada A Razão da Minha Vida, e lançada em 1951. Apesar de o peronismo ter garantido a cidadania para as mulheres, as organizando como massa social votante, havia o projeto de construção do que se costumava chamar de um "Grande Lar Argentino", no qual as mulheres, como eleitoras, desempenhariam os papeis de mãe e esposa, de modo que se movimentariam na esfera política apenas para exercer os supostos ideais de feminilidade, como a sensibilidade, pacificidade, afetuosidade, etc (concepção do feminino muito predominante naquele contexto). Abraços!

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  5. olá IVANA,
    Parabéns pelo texto, tema que me encanta. Observei que você mesclou dados bibliográficos com fontes primárias. Gostaria que você abordasse mais sobre o uso, ou potencialidade de uso, da fonte Mundo Peronista para pesquisas em América Independente e também para sala de aula na educação básica.
    Grata
    Georgiane Garabely Heil Vázquez

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Olá, Georgiane! Obrigada pelo comentário.
    Então, esse texto é fruto da minha dissertação de mestrado, na qual trabalhei com a revista Mundo Peronista, periódico estatal, com a autobiografia da Evita, "A razão da minha vida", e com a biografia "Eva Perón: a madona dos descamisados". Com exceção da última produção, que tem natureza jornalística, as demais foram produzidas para fins de grande circulação, de modo que atingissem os mais variados nichos sociais argentinos, servindo como manuais político-pedagógicos que ensinavam o que era a doutrina peronista para os adeptos, e também eram utilizadas para conseguir novos partidários. O fato é que a linguagem é muito acessível e no caso da revista, em específico, o trabalho visual é riquíssimo. Penso que são materiais que podem ser apostas interessantes e adequadas à experiência na educação básica.

    Abraços.
    Ivana Aparecida da Cunha Marques

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  8. Olá Ivana! Parabéns gostei muito do seu trabalho!
    Concordo quanto a levar esse tema para sala de aula, principalmente quando estamos vivendo um momento político tão delicado como o que vivemos agora. O populismo peronista não se difere muito do populismo brasileiro, sabemos que esse modo operante político aliás, como quase todos fazem uso da demagogia e manipulação para persuadir a população, e diante disso, temos o dever como educadores de formar cidadãos conscientes e capazes de decidir por se só, ainda que, nosso sistema doente tente corrompe-los.
    Maria Reinalda Farias dos Santos.

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    1. Oioi, Maria! Obrigada pela leitura!
      Isso, precisamos problematizar e contextualizar os conceitos. No caso do 'populismo', por exemplo, as apropriações dele ocorrem, geralmente, vinculando-o à apenas um viés político-partidário, como se as práticas políticas que configuram esse projeto não pudessem ser encontradas em diferentes sujeitos e esferas sociais.

      Abraços.
      Ivana Aparecida da Cunha Marques

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  9. Oi, Ivana. Muito interessante sua pesquisa sobre essa personagem histórica, Eva Perón. Ao ler o seu texto, consigo visualizar dentro da história das relações de gênero e das mulheres, a quantos estereótipos a sociedade constrói sobre nós. E, principalmente, quando se trata de figuras públicas, como nós mulheres somos julgadas, santas, loucas, prostitutas, levianas. Na história da Eva Perón, há essa construção, que ao mesmo tempo em que é comparada a uma figura materna, cuidadora, zelosa, também existe em contrapartida a figura sexualizada,erotizada, da mulher pública e que além disso teria antes de ser uma "mulher política", havia tentado ser atriz e cantora, profissões que durante muito tempo foi considerada como causadora de vergonha, quase uma forma de venda do corpo para as mulheres. Mesmo assim, Eva Perón assumiu seu lugar dentro da política peronista e seguiu "pelos descamisados", ocupando espaços que eram majoriatriamente masculinos. Então, quero te questionar acerca dessas imagens construídas sobre a Eva Perón, você acredita que dentro do contexto onde ela se encontrava, mesmo ela levantando essa "bandeira de uma maternidade com relação aos descamisados argentinos", sua imagem contribuiu de alguma forma para a descontrução dessa imagem machista, que temos socialemente de que o lugar de mulher é no lar, cuidando, dos filhos, sendo boa esposa? Ou Eva Perón só fez tornar mais forte essa construção de que o lugar das mulheres é realmente, cuidando, zelando, sendo materna? Agradeço por tão interessante leitura.

    Andrea Cristina Marques

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    1. Olá, Andrea. Fiquei muito feliz pelo seu comentário.
      Acredito que ela foi uma mulher historicizada que bebeu à todo tempo das fontes conceituais de seu tempo, e isso é inegável. Porém, com base dos meus estudos, percebi que além das complexidades de posicionamentos sociais, características de biografados(as) (os sujeitos não são lineares...), Evita abarcou características que fugiram das dicotomias. Não a classificaria nem como feminista, nem como antifeminista. Acredito que ela se valeu de um discurso pacificador em relação às normais sociais e tradicionais vigentes, fortalecendo, consequentemente, o projeto político liderado por seu esposo, e, dessa forma, galgou à postos sociais que antes seriam inacessíveis para ela e outras mulheres, obtendo inclusive conquistas significativas para o público feminino.


      Abraços.
      Ivana Aparecida da Cunha Marques

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