Adriana Martins de Paula Araújo e Luiz Gustavo Mendel Souza

 

O SOAR DOS VERSOS DE CONCEIÇÃO EVARISTO: EXPERIÊNCIAS E ATRAVESSAMENTOS A POTÊNCIA DA SALA DE AULA

 


 

Em entrevista para o programa Estação Plural, Conceição Evaristo exemplifica seu conceito de “escrevivência” através da relação violenta da experiência colonial brasileira. Para a autora a noção de “escrevivência” se aproximaria das narrativas utilizadas pelas africanas e suas descendentes que contavam suas histórias para adormecer os filhos da casa-grande. Na concepção de Evaristo, as narrativas das mães-pretas não serviam apenas para ajudar adormecer os filhos dos sinhôs, mas para despertá-los da cruel realidade (EVARISTO, 2017).

 

Conceição Evaristo se utiliza desse conceito para explicar o desenvolvimento de seus romances que hora parecem ficcionais, ora parecem reais. Ela menciona que a “escrevivência” traz em si a noção da vivência que possibilita autoras e autores trazerem e tratarem em suas escritas as experiências vividas enquanto vivência individual ou coletiva. No tocante a este aspecto, podemos realizar um paralelo com a elaboração da lei 10.639/03 que tornou obrigatória a abordagem da história e cultura africana e afro-brasileira. A existência desta lei traz em si uma trajetória de lutas do Movimento Negro para elaboração de um ensino mais democrático e representativo (GOMES, 2012), afastando-se do modelo conservador biográfico que enaltece a história tradicional (BITTENCOURT, 2005). Desta forma, a lei 10.639/03 é a manifestação de memórias e histórias silenciadas por séculos, entendemos a implementação da lei como a ascensão de demandas sociais contra o “epistemicídio” ocasionado pela educação tradicional. Segundo Boaventura de Souza Santos (1997), o “epistemicídio” é o assassinato ou silenciamento de todas as formas outras de pensamento para além do eurocentrado. A abordagem da História da África e da Cultura Afro-brasileira é a possibilidade de ascensão destes conhecimentos há muito silenciado. Dentre as formas de cumprimento desta lei nas salas de aula, contemplamos na literatura de Conceição Evaristo a possibilidade de debatermos com os alunos textos que se aproximam de suas realidades vividas.                                                                                                                                                                                                            

A “escrevivência” de Conceição Evaristo corrobora para uma abordagem interseccional através de suas narrativas ficcionais que entrelaçam histórias e memórias de uma grande parcela da população brasileira. Em obras como “Ponciá Vicêncio” (2003), “Becos da Memória” (2006) ou em “Olhos D’água” (2014) vemos uma gama de personagens ficcionais que transcendem as páginas dos livros e atravessam as nossas vidas e a de nossos alunos. Foi no intuito de trabalhar com textos que se aproximassem da realidade de nosso alunado que escolhemos os contos de Evaristo contidos no livro “Olhos d’água”. Mas, para que possamos discorrer sobre os efeitos avassaladores dessa experiência, vamos primeiramente nos aprofundar nas questões de como o currículo tradicional corrobora para o “epistemicídio” e o distanciamento da realidade de nossos alunos.

 

 

 

 

O ensino tradicional e o epistemicídio

 

A história do ensino de História no Brasil é um exemplo de construção identitária que, por décadas, privilegiou a hegemonia de uma cultura patriarcal, colonialista e cristã. Os alicerces desta narrativa hegemônica são construídos no final do século XIX, neste período a História enquanto ciência cumpriu o papel de arquitetar a identidade nacional dos emergentes estados-nação. O modelo eleito foi a visão Romântica da História baseada na Escola Metódica alemã que tinha como expoentes Humboldt e Ranke. Este modelo historiográfico estava amparado na exploração detalhada das fontes oficiais que geravam as grandes narrativas sobre os grandes eventos e personalidades heroicas, preservando assim a singularidade dos acontecimentos (KOSELLEK, 2006, p. 53). Na França a escola Metódica reverberou nas obras de Charles Langlois e Charles Segnobos, funcionários do então criado Instituto Histórico Parisiense (1834). Ambos historiadores também foram responsáveis pela elaboração do currículo escolar de História e das grandes obras, que também privilegiou as narrativas românticas dos eventos.

 

Tal modelo foi aderido pelo Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), que era composto pelos professores de História do Colégio D. Pedro II, ambos criados em 1837 (ABUD, 2004, p. 29). O currículo de história do Brasil visava atender a formação dos filhos da nobreza, enquanto o IHGB tinha o intuito de arquitetar a identidade nacional. O livro didático “História Geral do Brasil” (1850) foi elaborado por Francisco Adolfo de Varnhagem, membro do IHGB. Teve como referência a obra de Karl Von Martius datada de 1847, que enfatizou a formação étnica brasileira e na formação do seu povo através do branco, o negro e o indígena (MATHIAS, 2011). Mas a o foco privilegiado foi direcionado na participação do branco português europeu e na catequese jesuítica (ABUD, 2004, p. 30). 

 

Esse modelo narrativo eurocentrado, patriarcal e cristão ficou em vigor até 1931, é importante ressaltar que a reforma educacional de Francisco Campos retirou do Colégio D. Pedro II a hegemonia da produção didática da História direcionando ao Ministério da Educação, que elaborou. uma vertente educacional para a formação da elite burocrática brasileira. Em 1942, com a reforma educacional de Gustavo Capanema, a história do Brasil ganha um caráter autônomo e assume a missão de ter um viés patriótico, atendendo as demandas da ditadura getulista. Em suma o português é culpabilizado pelo atraso do país, o indígena ganha uma áurea romântica de nobreza da terra e resistência à escravidão e os negros são retratados como mão-de-obra escrava. Entre as décadas de 60 e 70, o modelo da História Historicizante é retomado como fórmula para o enaltecimento dos grandes eventos e grandes heróis brasileiros, como exigência do governo ditatorial civil-militar. Com o processo de redemocratização brasileira na virada dos anos 80 a história do Brasil vai ganhando novos contornos, atendendo as demandas da constituição, buscando uma formação cidadã que permita ao aluno mecanismos e instrumentos que o permitam ler e compreender a realidade social.

 

Em toda a trajetória curricular do ensino de História podemos ver a predominância do Estado enquanto produtor de um discurso que alicerça sua identidade nacional em um sujeito patriarcal e cristão. Podemos notar a dimensão violência proporcionada por esta estrutura curricular no momento que compreendemos que o modelo hegemônico das grandes narrativas, em questão de gênero, silenciou metade da humanidade (PERROT, 1998). No tocante à questão de raça, a filósofa Sueli Carneiro (2005) traz um arcabouço teórico para entender a construção do “outro” no caso brasileiro. Para isso, Carneiro apropria-se do conceito de “epistemicídio” de Souza Santos para compreender o apagamento do “outro” enquanto produtor de conhecimento. A filósofa também se aproxima de Foucault ao trabalhar com o conceito de “dispositivo” voltado para a “racialidade/biopoder”, enquanto forma de disciplinar as relações raciais: “É nosso entendimento que esse dispositivo disciplinará as relações raciais nas sociedades pós-coloniais e as relações de soberania entre as nações racialmente inferiorizadas.” (CARNEIRO, 2005, p. 75). Desta forma, compreendemos o silenciamento curricular operado pelo Estado como um mecanismo epistemicida, um dispositivo de racialidade/biopoder que não somente apaga, mas cria o lugar do “outro”.

 

É importante destacar que o cunho eurocêntrico histórico é o núcleo da eurocentricidade e ocidentalização naquilo é tocante a todas as demais áreas das Ciências Humanas, marcando um território por meio da perspectiva e metodologia histórica que é constituída por princípios filosóficos que acabam por fundamentar tais narrativas como verdadeira e únicas. 

 

Quando expandimos nossa análise para a questão racial e damos um foco maior para o continente americano, vemos a gravidade da violência epistemicida proporcionada pelo conceito de raça. O sociólogo peruano Hanibal Quijano (2009) defende a ideia de que o pensamento moderno se estabeleceu através da racialização dos povos não europeus. Quijano denomina de “colonialidade do poder” a racialização dos povos enquanto classificação social. A Modernidade/Racionalidade europeia tornou-se hegemônica através expansão colonialista, tendo como seus principais pilares o capitalismo, o cristianismo e o patriarcado. Diferente do colonialismo, que é a dominação política, econômica, social, religiosa e militar das colônias, a colonialidade é um padrão de dominação ideológico que impera culturalmente, mas, acima de tudo, na produção e na destruição das formas de conhecimento. Contudo, essa dominação exerce também um poder de aniquilação sobre culturas e sistemas que se desenvolve por meio do apagamento da diversidade sócio-cultural dos povos, da língua e de suas subjetividades.  O “epistemicídio” é a ferramenta de produção em massa do “outro”. Quijano aponta que a “colonialidade do poder” está amparada na classificação social do “outro”, classificação esta que iniciaria na classificação de gênero e, logo depois, raça. A Modernidade/Racionalidade eurocentrada teria como outra face da mesma moeda a classificação social do restante do mundo, a Racialidade. Seguindo esta mesma proposta, Walter Mignolo (2017) expande a noção de “colonialidade” para o ser, onde o estabelecimento da Racionalidade/Racialidade se faria através do assassinato das formas outras de ser, ou seja, não haveria uma ontologia para além do centro mundial de produção epistêmica, o norte global. Boaventura de Souza Santos (2009) demonstra que a violência colonial produziu uma linha divisória do mundo entre norte e sul epistêmico. A centralidade europeia se faria através dos canhões e das baionetas, mas o estabelecimento se dará através do assassinato e o silenciamento em massa das formas outras de conhecimento, colocando o sul epistêmico muito além da “linha abissal”. Para além desta linha não há racionalidade, é para lá que foram isolados e gerados todos os “outros” que não estariam incorporados pelos sujeitos europeus. Desta forma, aniquilam-se os corpos e exaltam-se as mentes racionais e racionalizadas, e por conseguintes racializadas. Escraviza-se e expropria-se povos de terras invadidas e exploradas e os povos e terras de além mar. 

 

Em nosso caso os efeitos dos sileciamentos dos sujeitos outros - e que também habitam em nós - encontram dentro das salas escolares através da ausência destes sujeitos nos livros didáticos. Essa ausência não é sem propósito ou gratuita e embora seja ecoada no silêncio ela é manifestada na ausência das pigmentações das cores, na busca de verdades bem acabadas e esféricas, na linguagem que não constitui e atravessa o corpo se centrando no peito, que se expande para fora e não volta pra si, rompendo afetos, mentes e gerando patias sócio-relacionais desnecessárias. Por isso que a crescente articulação dos movimentos sociais é de extrema importância para uma democratização de um ensino cidadão. 

 

Por isso uma educação que se afaste da narrativa única do modelo hegemônico patriarcal/cristão/eurocêntrico/branco/heteronormativo se faz necessário dentro das salas de aula. Neste quesito, um clássico da pedagogia de Paulo Freire pode ser reinterpretado pela leitura interseccional de Patrícia Hill Collins e Sirma Bilge (2021):

 

“Paulo Freire rejeita as análises das relações de poder baseadas apenas em classe, defendendo a linguagem mais robusta e carregada de poder dos ‘oprimidos’. Os ‘oprimidos’ de Paulo Freire no Brasil do século XX são análogos aos de hoje: sem-teto, mulheres, pobres, pessoas negras, minorias sexuais, indígenas, imigrantes sem documentos, indivíduos em cárcere, minorias religiosas, jovens e pessoas com deficiência. O uso que Paulo Freire dá aos termos ‘opressão’ e ‘oprimido’ evoca as desigualdades interseccionais de classe, raça, etnia, idade, religião e cidadania”. (COLLINS; BILGE, 2021, p.212).

 

Entendemos as potencialidades contidas nos textos de Conceição Evaristo como ganhos proporcionados pelas leis que tratam como obrigatoriedade as leituras e debates sobre os grupos sociais e etnias suprimidas pela grande narrativa histórica. A lei 10.639/03, complementada pela lei 11.645/08 são frutos das demandas e lutas dos movimentos negros e indígenas (GOMES, 2012; DANTAS, ABREU, MATOS, 2012). Segundo Arroyo: “os coletivos populares se reconhecem sujeitos de conhecimentos, de valores, culturas, sujeitos de processo de humanização/emancipação.” (ARROYO, 2012, p.25). Tais leis são de suma importância para trazer o debate para o desenvolvimento da equidade entre as epistemes dentro das salas de aula, trazer o reconhecimento da sofisticação e complexidades das formas outras de produção cultural, religiosa e de conhecimento dos povos indígenas, africanos e afro-brasileiros (SIMAS, RUFINO, 2019).

 

Os efeitos da “escrevivência” em sala de aula

 

No ano de 2019 realizamos um trabalho em conjunto com a biblioteca da escola estadual em que trabalhávamos. A escola é situada em São Gonçalo, o município encontra-se na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro e é a segunda cidade mais populosa, contando com uma área de 248,160 km² e uma população estimada de 1.091.737 pessoas (IBGE, 2020). A cidade também sofre com a incidência de pobreza de 39,86% da população, segundo o censo de 2003 (o último gerado pelo IBGE). Dentro dessa realidade, encontramos um colégio técnico que atende cerca de 310 alunas e alunos com uma diversidade de questões sociais, familiares, de gênero e raça.

 

O projeto era a escolha e utilização do livro “Olhos d’água” de Conceição Evaristo em nossas aulas, que alinhavavam as diferentes disciplinas da área de ciência humanas. Para assim compormos, entre Filosofia, História, Geografia e Sociologia com a potência transformadora da Literatura uma tessitura que desse a ver os corpos e vozes, apagados, silenciados e ocultados. No ano anterior nós havíamos selecionado a obra de Evaristo dentre os títulos disponibilizados pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) ofertados pelo Programa do Livro Literário, desta forma, a biblioteca recebeu 120 cópias. Planejamo-nos utilizar o primeiro tempo de nossas aulas para lermos um conto, fazendo a escuta desses sujeitos em nós e mergulhamos com as turmas nas histórias nossas que muitas vezes nos foram negadas a visibilidade e silenciada na nossa voz, quer presente, quer ausente – por meio de nossa ancestralidade. 

 

Um livro de contos da Conceição Evaristo atravessado pela noção de “escrevivência”, trazendo em sua escrita a oralidade ancestral que carregamos em nossos corpos o tempo todo. Uma de nossas dificuldades enquanto leitores é a de nos enxergarmos nos textos literários, porque a literatura nos atravessa e tece fios que vem e vai do escritor para o leitor e do leitor para o orador, daquele que vai contando essas histórias, por mais que não esteja mais lendo. Os contos de “Olhos d’água” são textos que tratam do “lugar de fala” – enquanto consciência do lugar social que ocupa (RIBEIRO, 2017) – dos  periféricos, pretos, pobres, pardos (indígenas e miscigenados) favelados, atravessados por essas vidas que são sobrevidas e não são experiencialmente vividas inteiramente. A partir das leituras nós discutimos, projetamos, construímos e costuramos a vida, não só dos professores que estavam lendo, mas dos alunos em sala de aula, uma troca de experiências. Através de uma relação afetiva em que todo mundo precisa dizer e precisa ouvir, todos tem o que contar e como se ver naquelas histórias. Se não a si mesmos, a mãe, a tia, a avó, o pai, o primo, o amigo, alguém que se perdeu, alguém que a gente conheceu ou até a nós mesmos. Tanto nós poderíamos estar no lugar daqueles personagens que são tratados nos diversos contos quanto de nossos entes queridos. 

 

As discussões e afetações tomaram tamanha proporção que envolveu professores da área de Humanidades e Linguagens, além dos demais docentes que contavam suas experiências na leitura do livro na ação de levá-lo para além da escola, utilizando em seus outros trabalhos.  As leituras dos contos foram se tornando uma composição dentro – e fora - da sala de aula, foram costurando junto aos conceitos e as discussões dos temas que estávamos trabalhando naquele momento nos conteúdos do currículo. No entanto, emergiam e submergiam, transbordavam para dentro e para fora, afetos de (re)conhecimento e subjetivação. Em suma, foi um processo de transbordamento da sala de aula, desaguando no ouvido, no corpo do colega professor ou professora, atravessando o corpo do aluno e transbordando na casa dele. Ouvíamos relatos de alunos que levaram e leram os contos em suas casas para seus parentes, alguns falavam das lágrimas que os contos geravam. E ouvíamos na voz trêmula e ofegante o que o copo dos discentes nos (re)contavam:

 

“Professora, eu li um conto da Conceição para a minha mãe e minha mãe chorou! Eu nunca pensei que eu ia ler para minha mãe e minha mãe chorou comigo lendo para ela! Você acredita nisso?! Porque ela também se viu na história e ela começou a contar que ela se lembrou da mãe dela e o que aconteceu com o pai dela!” 

 

Essa escrita de vida, que mistura a tênue linha entre a ficção e realidade sem que saibamos aonde começa uma e termina a outra, trouxe à tona histórias e afetos ancestrais que muitos dos nossos alunos – e por que não interlocutores na troca dos afetos escolares - companheiros de chão de escoa não sabiam que estavam habitar seus copos e que de alguma forma ainda que silenciada gritava em suas cores, aparências, linguagem, vestes e gostos.

 

É incrível pensar como o atravessamento de uma escrita preta, com lugar de fala periférico, pode fazer ecoar as intersecções entre o “eu” e ou “outro”, para além das limitações do tempo em sua divisão racional, mas também é importante lembrar que para afetos não há tempo que os limite em continuar sendo.

 

Ouvir, um aluno contar as lágrimas que pôde ler uma história para mãe que faz lembrar de sua própria história ancestral e ambos a se debulharem em lágrimas, é fazer o movimento de uma escuta da dinâmica do encontro, daquela que não se aparta, mas se envolve e se permite atravessar. É permanecer e (re)existir para viver mesmo quando tudo que está lá fora grita para se conformar e sobreviver.

 

Com estas experiências podíamos discutir em sala de aula a questão da solidão da mulher negra, da mãe mulher negra, discutir a questão do racismo, a questão do feminismo negro. Discutir todas estas questões que atravessam nossas vidas o tempo todo e muitas vezes elas vão ficando de lado porque os conteúdos curriculares não dão conta, mas a Literatura e a Filosofia permitem essa brecha para trabalhar nas frestas (SIMAS, RUFINO 2019).

 

 

Referências Biográficas

 

Ma. Adriana Martins de Paula Araújo, professora de Filosofia da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – Processos Formativos e Desigualdades Sociais (PPG-EDU) da Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

 

Dr. Luiz Gustavo Mendel Souza, professor de História do Instituto Federal da Bahia - Campus Ilhéus. Doutor pelo Programa de Pós Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

 

Referências Bibliográficas

 

ABUD, Kátia. Currículos de História e políticas públicas: os programas de História do Brasil na escola secundária. In: BITTENCOURT, Circe. Circe M. F. (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

 

ARROYO, Miguel G. Outros sujeitos, outras pedagogias. Petrópolis:

Vozes, 2012.

BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005.

 

CARNEIRO, Sueli, A construção do outro como não ser como fundamento do ser, Tese de doutorado em Educação, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2005.

 

COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Editora, Boitempo. Ano de Edição, 2021.

 

DANTAS, Carolina Vianna; MATTOS, Hebe; ABREU, Martha (Orgs.). O negro no Brasil: trajetórias e lutas em dez aulas de História. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

 

EVARISTO, Conceição. Escritora Conceição Evaristo é convidada do Estação Plural: depoimento [jun. 2017]. Entrevistadores: Ellen Oléria, Fernando Oliveira e Mel Gonçalves. TVBRASIL, 2017a. YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Xn2gj1hGsoo. Acesso em 15 jul. 2018.

GOMES, Nilma Lino. MOVIMENTO NEGRO E EDUCAÇÃO: RESSIGNIFICANDO E POLITIZANDO A RAÇA. In: Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 120, p. 727-744, jul.-set. 2012.

 

IBGE, link: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/sao-goncalo/panorama (acessado em 18 de abril de 2021).

 

MATHIAS, Carlos Leonardo Kelmer. O ensino de História no Brasil: contextualização e abordagem historiográfica. In: História Unisinos 15(1):40-49, Janeiro/Abril 2011

 

MIGNOLO, Walter. COLONIALIDADE O lado mais escuro da modernidade. In: RBCS. Vol. 32 n° 94 junho/2017.

 

PERROT, Michelle. Mulheres Públicas. São Paulo: Unesp, 1998.

 

RIBEIRO, Djamila. O que é: lugar de fala? Belo Horizonte(MG): Letramento: Justificando, 2017

 

QUIJANO, Aníbal. COLONIALIDAD Y MODERNIDAD/RACIONALIDAD. In: Perú Indíg. 13[29]: 11-20, 1992. 

 

_____. A colonialidade do poder e classificação social. In: SOUZA SANTOS, Boaventura e MENESES, Maria Gutierrez [orgs.]. Epistemologias do Sul. Coimbra: CES, 2009.

 

REMENCHE, Maria de Lourdes Rossi; SIPPEL Juliano. A ESCREVIVÊNCIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO COMO RECONSTRUÇÃO DO TECIDO DA MEMÓRIA BRASILEIRA. In: Cadernos de Linguagem e Sociedade, 20(2), 2019.

 

SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

 

SOUZA SANTOS, Boaventura. PELA MÃO DE ALICE: O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 4. ed, 1997.

 

SOUZA SANTOS, Boaventura e MENESES, Maria Gutierrez [orgs.]. Epistemologias do Sul. Coimbra: CES, 2009.


 

15 comentários:

  1. Bom dia,
    Excelente trabalho, parabéns!
    Vocês mencionam vários conceitos importantes para tratarem sobre vozes, corpos silenciados por séculos, por exemplo, “escrevivência”, “epistemicídio”. De fato, a literatura nos aproxima das carnes, dos corpos, das pessoas simples, do dia-a-dia de um determinado contexto ou classe social. Várias autoras têm se destacado com essa escrita como Conceição Evaristo, Isabela Figueiredo, Djamilia Pereira de Almeida, entre outras. Dessa forma, como nós professores de história que atuamos nas mais distintas realidades escolares podemos trabalhar juntamente com a literatura relacionando ao contexto histórico de cada época essa sensibilidade que não encontramos nos livros didático? Como evidenciar os sujeitos silenciados sem se afastar do próprio livro didático?
    Rannyelle Rocha Teixeira - UFRN

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    1. Prezada Rannyelle Rocha Teixeira,

      Agradeço sua leitura e contribuição. Sobre sua questão, fico muito pensativo sobre a nossa autonomia em sala de aula. O currículo escolar direciona nossos planejamentos didáticos, mas cabe a nós, enquanto educadores, criarmos mecanismos de ação política que abarque as histórias dos sujeitos silenciados. Por exemplo: utilizar o livro " Defeito de Cor" de Ana Maria Gonçalves para abordar a experiência do tráfico de escravizados, a vida dos escravizados no campo e na cidade, ou as táticas operadas pelas mulheres africanas para ocuparem o espaço público com seus trabalhos; ou "Quarto de Despejo" de Carolina de Jesus para falar sobre as experiências vividas pelas mulheres na periferia na segunda metade do século XX, são opções. Mas, sinceramente, acredito que se afastar um pouco do currículo pode ser um caminho frutífero também. Pois, se nos limitármos às grandes narrativas, nós continuaríamos a perpetuar uma educação colonializada. Não estou propondo um abandono do currículo mínimo, mas explorar um quarto do nosso calendário para inserir novas fontes literárias, elementos que se aproximem da realidade de nossos alunos. Digo isso, pois, trabalhávamos em uma escola técnica, onde a
      O horário das disciplinas de humanas eram bem limitados, mas mesmo assim conseguimos explorar algo diferente e potente em nossas aulas.

      Mais uma vez grato.

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  2. Professores Adriana Martins e Luiz Gustavo Souza, o artigo gerou um conjunto de reflexões as quais estimulam mudanças na prática educação na busca por uma educação antirracista no cotidiano, a partir das nossas escolhas no espaço escolar, mais extrapolando ele também. Evidencia-se como a escolha das obras da escritora Conceição Evaristo atravessam vocês, mas gostaria de saber um pouco mais sobre a recepção da obra por parte dos alunos. Já utilizei contos de Evaristo na sala de aula e percebi uma identificação imediata dos problemas sociais apresentado pela a autora e os vivenciados pelos alunos. Parabéns pelo texto e obrigada pela rica contribuição.

    Debora Simões de Souza Mendel

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    1. Prezada Debora Simões,

      Agradeço por sua leitura e contribuição, sobre a recepção dos alunos e dos professores, os contos de Conceição Evaristo são potentes de tal forma que atravessaram, de alguma forma, seus leitores. Nos corredores da escola eu era abordado por algum aluno, aluna, professor e professora que dizia o quanto o livro trazia experiências que dialogava com suas vivências ou de alguém próximo. Em suma o livro atravessou as paredes da sala de aula e entrou nas casas dos alunos e alunas em suas leituras para seus familiares. Enfim, os contos de Conceição Evaristo ou de obras parecidas (indico "Sol na Cabeça" de Geovane Martins), são essenciais para reformularmos nossas práticas educativas.

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    2. Cara Débora,

      Obrigada por seu tempo dedicado ao nosso texto e por suas considerações e questões.

      As escrivivências, sejam elas pretas ou indígenas, marcam a experiência coletiva dos povos e etnias racializadas. Ela se faz potência-ato e inegavelmente gera identificação e reconhecimento pois traz consigo, por entre as pausas silenciosas ou ruidosas, a incorporação das narrativas orais ancestrais diretas e indiretas. Assim, possibilita o leitor - sujeito e coletivo - que ancestral mente fora racializado, escravizado e apagado um sopro potente de vida ao lança-los no coletivo ancestral. É impossível não se re-conhecer e não se deixar atravessar pelos diferentes lugares das narrativas de escrivivências - em muitos casos será a primeira vez que este leitor de verá com seus próprios olhos, sob olhar dos seus. Se saber e saber-se dizer é libertador.

      Mais uma vez obrigada pela questão.

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  3. Olá! Parabéns Adriana e Luiz pelo texto! Afastando-se do modelo conservador biográfico que enaltece a história tradicional e que silencia demandas sociais ocasionado pela educação tradicional. Qual o papel das instituições de educação contra o “epistemicidio” contemporâneo?
    Rafael de Jesus Pinheiro Privado

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    1. Prezado Rafael de Jesus Pinheiro Privado,

      Agradeço por sua leitura e observação. Sobre o papel da educação, ela precisa ser emancipatória no sentido freireano. A pedagogia é uma ferramenta que contribui para que os indivíduos aprendam a ler a sua realidade, compreender sua realidade é o passo principal para uma possível mudança de posicionamento diante da vida. Neste quesito, a escola precisa se compreender plural, com uma infinidade de realidades sociais e culturais distintas, mas, acima de tudo, a escola precisa assumir uma posição democrática. Acredito que uma escola democrática de qualidade se compromete com uma educação emancipatória e dialógica, fretado assim o modelo colonoalista epistemicida.

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  4. Olá, parabéns pelo excelente texto!
    Como vocês acham que as escolhas bibliográficas, dos referenciais teóricos, seja no meio escolar ou no universitário, podem contribuir para o rompimento da percepção eurocêntrica de construção de conhecimento?
    - Millena Luzia Carvalho do Carmo

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    1. Prezada Millena Luzia Carvalho do Carmo,

      Agradeço por sua leitura e seu comentário. Sobre sua questão, tenho percebido um movimento interessante nas universidades que são as demandas dos coletivos de alunos. Alguns destes coletivos questionam sobre a ausência de autores negros, mulheres, LGBTQI+, dentre outras minorias produtoras de pesquisas acadêmicas. Creio que esse movimento está relacionado com a diversidade do alunado das universidades públicas e privadas devido às políticas públicas de inclusão social nas instituições públicas. Esse movimento está tomando corpo nas escolas públicas, vide as ocupações ocorridas nos anos de 2015 e 2016 em todo o território nacional. Eu creio que o rompimento com o modelo hegemônico precisa ocorrer de baixo para cima em um movimento que aglutine as demandas do alunado, professores, comunidades escolar e os movimentos sociais e os coletivos estudantis. Acredito que precisamos avançar para além do cumprimento das leis 10.639/03 e 11.645/08, precisamos que elas se tornem uma demanda social.

      Grato.

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    2. Olá, Milena.
      Obrigada por seu tempo em nos ler.

      As escolhas dos referenciais teóricos são a manifestação visível do conteúdo eurocêntrico que garante uma narrativa única. Toda narrativa única é perigosa. Se olharmos pras nos escolas (formação) quer na Educação Básica quer na Educação Universitária veremos esse recorte que funciona como uma espécie dispositivo de garantia e controle daquilo é aceitável, logo canônico. Deixar atravessar bibliografias teóricas e não teóricas dos povos da gentes,manifestadas numa escrita de origem africana ou indígena, faz mover o centro daquilo que é europeu e possibilita a descentralização dos saberes.

      Imensamente grata por sua questão.

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  5. Olá Adriana e Luiz que texto potente sobre a literatura de Conceição Evaristo. Muito inspirador para minhas práticas em sala de aula. O conceito de escrivivência de Conceição Evaristo é muito potente e deve ser utilizado em sala de aula, sobretudo em nossas aulas que falamos da história do Brasil, sobretudo como foi abordado por vocês, a literatura como no caso de Conceição Evaristo se conecta a história dos nossos alunos e isso é essencial para uma aprendizagem histórica significativa. Gostei muito porque a proposta de vocês trouxe a interdisciplinaridade e eu acredito que é muito importante fazer com que as outras disciplinas compreendam as formas de silenciamento e o epistemicídio na construção do conhecimento, inclusive o conhecimento escolar. Minha pergunta vai no mesmo sentido dos colegas Rafael e Milena sobre como a instituição escolar ou universitária pode contribuir para romper com essa visão eurocêntrica do conhecimento, sobretudo pensando a formação continuada para professores da educação básica e formação inicial?
    Abraços,
    Bruna

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    1. Cara Bruna,
      Muito obrigada por seu tempo e análise de nosso texto.
      Penso e acredito que institucionalmente, quet a nível da Educação Básica ou do Ensino Superior, a mudança de paradigma epistêmico - saindo do ponto eurocêntrico, e portanto epistemicida, está no movimento de descentralização dos conteúdos dos componentes curriculares - não falo aqui de diluição dos currículos ou de aniquilamento do currículo reduzindo às tais habilidades e competências - aprofundando os pontos de contatos das áreas promovendo trocas profundas das análises e potência dessas flexibilização. O encaixotamento dos conteúdos em compartimentos que não se permite atravessar a vida e tocar a potência dos diferentes saberes, inclusive dos saberes prévios e constituído dos alunos independente do nível de ensino. Assim, precisamos des-verticalizar o saber (conteúdo, conhecimento, etc) e horizontalizar. Nada é mais potente que a vida. E é isso que a literatura da Conceição e de tantas outras escritas mulheres pretas e indígenas carrega. Deixemos transbordar literatura (e todo tipo de arte) nas nossas salas de aula para que atravessem os conteúdos e rompam com as barreiras da compartimentação do saber.

      Mais uma vez obrigada

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  7. Boa tarde, parabéns pelo excelente texto! Além do uso de contos/escritos de Conecição Evaristo, seria possível incentivar os próprios alunos a fazerem suas escrevivências, produzindo conhecimento histórico?

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  8. Olá, caríssima Flávia!

    Obrigada por seu tempo em nos ler e por sua questão.
    A escrivivência é pulso e impulso, que reside e atravessa na possibilidade de escrever a si entre a ficção e a realidade. A força da literatura de escrivivência está justamente nessa possibilidade de ao ler o que foi escrito por escrivivência se começar a escrever a si, suas histórias e estórias, entre a realidade e a ficção. Temos a potência pra ser aquilo que já somos e talvez ainda não saibamos. A estrutura eurocêntrica que haje na força do epistemicídio condicionou a narrativa oral como menor ou simplória. No entanto, na escrivivência temos a potência da narrativa oral incorporada a escrita. Assim, certamente diria que sim ao ler escrivivências, nas escritas dos nossos, nossas alunas e alunos e nós mesmos professores e professoras somos também impulsionados a incorporar na nossa vida escritas vivas, nossas escrivivências.

    Obrigada por dividir suas inquietações conosco.

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